quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NA MINHA CASA TEM ÁRVORE DE NATAL. E NA SUA?

Quando cheguei à igreja, na minha adolescência ainda, os crentes comemoravam o natal com dramatizações, poesias, músicas e, sobretudo com enfeites natalinos, dentre estes estava a tão “demonizada” árvore de natal.

Passado os tempos os crentes não sei por que carga d’água de repente descobriram que é pecado, é maldita o pobre pinheiro natalino. Coisa do “demo”.

Assim os filhos dos novos crentes jamais aprenderam a linda música “noite feliz”, nem puderam admirar ou curtir o enfeite de uma árvore de natal, conseqüentemente o mistério da encarnação também não é lembrado neste dia.

Dizem que a árvore de natal é pagã. Ora, Lutero entre os Protestante foi o primeiro a enfeitar uma delas para demonstrar aos filhos como ficou o céu na noite do nascimento do Filho de Deus.

Não sei por que esta fobia ou esta perseguição contra a árvore de natal. A Bíblia sempre usou a figura da árvore para transmitir seus mais sublimes e às vezes complicados mistérios. Por exemplo:

1. Para explicar a origem do pecado, lá está a “árvore do conhecimento do bem e do mal”

2. Tem querubins com espada inflamante guardando a entrada para a “árvore da vida”

3. Na visão de Ezequiel a água que sai debaixo do templo sara as águas e faz brotar as árvores, num símbolo do ressurgimento da nação eleita;

4. Na praça da nova Jerusalém tem uma árvore que alimenta e cura as nações com seus frutos;

5. E foi de uma árvore que fizeram o tronco da crucificação do Homem-Deus.

Ora, poderíamos encher esta e outras páginas com a metáfora da árvore nas Escrituras, os escritores fizeram farto uso dela em seus ensinos.

A didática da árvore natalina também vai longe. Podemos utilizá-la para uma lição de meio ambiente, como uma lição de prosperidade tão em alta entre os novos irmãos, e outras formas além do enfeite é claro.

Mas se a árvore de natal é paganismo, neste mês eu sou pagão, enfeitei um coqueiro no jardim de minha nova residência. Mas se isso é paganismo estou de mãos dadas com os pagãos evangélicos, por exemplo:

1. Também acho que é paganismo ter um punhado de terra de Israel para efeitos de consagração;

2. Também acho que é paganismo ter um pouco de água do Jordão para efeitos de aspersão;

3. Também acho que é paganismo ter uma “toalhinha” do Apóstolo Valdomiro;

4. Também acho que é paganismo ter o sabonete da “purificação” do R.R. Soares;

5. De igual modo é paganismo ter a rosa do “descarrego” do Macedo;

Em suma somos todos pagãos e não sabemos, e se sabemos nos defendemos entrincheirados em nossas hermenêuticas fajutas e descomprometidos com a mensagem do Encarnado.

Mas graças a Deus somos pagãos amigáveis; eu como na mesa deles e eles tomam o cafezinho em minha casa admirando ou “amarrando” a minha árvore de natal.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

“DEUS TEM UM PLANO” - CARTOMANCIA GERENCIAL HISTÓRICA DISFARÇADA DE FÉ

A maioria dos evangélicos são arminianos e por isso abominam a doutrina da predestinação. Querem ser compassivos com o humanismo e com o princípio do livre-arbítrio.

Mas existe uma paranóia neste meio e esta já produziu um bordão - “Deus tem um plano”. Todos eles falam disso, crêem nisso, proclamam isto o tempo todo e por aí vai.

Mas será que existe este tal “plano de Deus”? E se existe como podemos descobri-lo? As afirmações dos crentes com relação este tal plano é fruto de uma convicção bíblica solidamente fundamentada ou é apenas mais uma daquelas frases de evento tão em voga em nossos dias?

Só para conversarmos faço as seguintes pontuações extraídas de da seção “cartas” do site www.caiofabio.net por considerar a melhor definição sobre esta questão atual:

1. Se Deus tem um plano, o plano é Dele, e não meu. E se Ele tem um plano, nunca me disse qual era. Não no sentido de mapa e guia de encontros; tipo “Par Perfeito”.

2. Se Deus tem um plano, saiba: não é um roteiro de cinema, nem uma corrente de eventos revelada à priori, nem um mapa a ser seguido, nem qualquer forma de determinismo.

3. Além disso, aos que Ele disse qualquer coisa, disse apenas coisas relacionadas à mensagem a ser anunciada, mas não deu detalhes sobre a vida de ninguém. Do contrário, o justo não viveria pela fé, mas pelo plano.

4. Esse tal “plano de Deus” dos crentes, não só é vício pagão, como é uma espécie de cartomancia gerencial histórica, disfarçada de fé. E nisso há tudo—insegurança, idiotice, infantilismo, ignorância, covardia, etc. — menos fé.

5. O plano sou eu. O plano são os dons que Ele me deu. O plano são as boas oportunidades. O plano é a capacidade de realizar o que é bom. O plano é viver com bom senso conforme o Evangelho.

6. Esse negócio do plano de Deus é doença de crente pentecostal, que adora saber à priori o que ninguém sabe ou deveria saber; pois, quando assim é, a pessoa se infantiliza, e jamais cresce na vida, ficando  paralisada e cada vez mais amargurada.

7. O plano de Deus é que você ande pela fé e com o coração buscando discernir e aplicar o que é bom — tanto pra você quanto para os outros!

8. Sim! O plano de Deus é este: “O que quereis que os homens vos façam, fazei isto mesmo antes a eles”.

domingo, 14 de novembro de 2010

A “OUTRA” IGREJA POSSÍVEL

O cardeal Carlo M. Martini, jesuíta, biblista, arcebispo que foi de Milan em seu livro de confidências e confissões Colóquios noturnos em Jerusalém, declara: “Antes eu tinha sonhos acerca da Igreja. Sonhava com uma Igreja que percorre seu caminho na pobreza e na humildade, que não depende dos poderes deste mundo; na qual se extirpasse pela raiz a desconfiança; que desse espaço às pessoas que pensem com mais amplidão; que desse ânimos, especialmente, àqueles que se sentem pequenos o pecadores. Sonhava com uma Igreja jovem. Hoje não tenho mais esses sonhos”. Esta afirmação categórica de Martini não é, não pode ser, uma declaração de fracasso, de decepção eclesial, de renúncia à utopia. Martini continua sonhando nada menos que com o Reino, que é a utopia das utopias, um sonho do próprio Deus.

Ele e milhões de pessoas na Igreja sonham com a “outra Igreja possível”, ao serviço do “outro Mundo possível”.

A outra igreja possível deverá ser radical na procura da justiça e da paz, da dignidade humana e da igualdade na alteridade, do verdadeiro progresso dentro da ecologia profunda.

A outra igreja possível poderá fazer uso do Pacto das Catacumbas que em seus 13 pontos insiste na pobreza evangélica da Igreja, sem títulos honoríficos, sem privilégios e sem ostentações mundanas; insiste na colegialidade e na corresponsabilidade da Igreja como Povo de Deus e na abertura ao mundo e na acolhida fraterna.

A outra igreja possível desejará viver, à luz do Evangelho, a paixão obsessiva de Jesus, o Reino. Há de querer ser a Igreja da opção pelos pobres, comunidade ecumênica e macroecumênica também.

A fé da outra igreja possível, o Deus em quem acreditamos, o Abba de Jesus, não pode ser de jeito nenhum causa de fundamentalismos, de exclusões, de inclusões absorventes, de orgulho proselitista. Chega de fazermos do nosso Deus o único Deus verdadeiro. A Igreja será uma rede de comunidades orantes, servidoras, proféticas, testemunhas da Boa Nova: uma Boa Nova de vida, de liberdade, de comunhão feliz.

A obra da outra igreja possível terá como pregação e imitação uma Boa Nova de misericórdia, de acolhida, de perdão, de ternura, samaritana à beira de todos os caminhos da Humanidade. Seguiremos fazendo que se viva na prática eclesial a advertência de Jesus: “Não será assim entre vocês” (Mt 21,26). Seja a autoridade o serviço.

A outra igreja possível se comprometerá, sem medo, sem evasões, com as grandes causas de justiça e da paz, dos direitos humanos e da igualdade reconhecida de todos os povos. Será profecia de anuncio, de denúncia, de consolação. A política vivida por todos os integrantes desta igreja será aquela “expressão mais alta do amor fraterno”.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

“DEUS ESTÁ MORTO”

"Deus está morto" é uma frase muito citada do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Aparece pela primeira vez em A gaia ciência, na seção 108 (Novas lutas), na seção 125 (O louco) e uma terceira vez na seção 343 (Sentido da nossa alegria). Uma outra instância da frase, e a principal responsável pela sua popularidade, aparece na principal obra de Nietzsche, Assim falava Zaratustra.

Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós!

"Deus está morto" é talvez uma das frases mais mal interpretadas de toda a filosofia. Entendê-la literalmente, como se Deus pudesse estar fisicamente morto, ou como se fosse uma referência à morte de Jesus Cristo na cruz, ou ainda como uma simples declaração de ateísmo são ideias oriundas de uma análise descontextualizada da frase, que se acha profundamente enraizada na obra nietzscheana. O dito anuncia o fim dos fundamentos transcendentais da existência, de Deus como justificativa e fonte de valoração para o mundo, tanto na civilização quanto na vida das pessoas — segundo o filósofo, mesmo que estas não o queiram admitir. Nietzsche não se coloca como o assassino de Deus, como o tom provocador pode dar a entender: o filósofo enfatiza um acontecimento cultural, e diz "fomos nós que o matamos".

A frase não é nem uma exaltação nem uma lamentação, mas uma constatação a partir da qual Nietzsche traçará o seu projeto filosófico de superar Deus e as dicotomias assentes em preconceitos metafísicos que julgam o nosso mundo — na opinião do filósofo, o único existente — a partir de um outro mundo superior e além deste. A morte de Deus metaforiza o fato de os homens não mais serem capazes de crer numa ordenação cósmica transcendente, o que os levaria a uma rejeição dos valores absolutos e, por fim, à descrença em quaisquer valores. Isso conduziria ao niilismo, que Nietzsche considerava um sintoma de decadência associada ao fato de ainda mantermos uma "sombra", um trono vazio, um lugar reservado ao princípio transcendente agora destruído, que não podemos voltar a ocupar. Para isso ele procurou, com o seu projecto da "transmutação dos valores", reformular os fundamentos dos valores humanos em bases, segundo ele, mais profundas do que as crenças do cristianismo.

Segundo ele, quando o cheiro do cadáver se tornasse inegável, o relativismo, a negação de qualquer valoração, tomaria conta da cultura. Seria tarefa dos verdadeiros filósofos estabelecer novos valores em bases naturais e iminentes, evitando que isso aconteça. Assim, a morte de Deus abriria caminho para novas possibilidades humanas. Os homens, não mais procurando vislumbrar uma realidade sobrenatural, poderiam começar a reconhecer o valor deste mundo. Assumir a morte de Deus seria livrar-se dos pesados ídolos do passado e assumir sua liberdade, tornando-nos eles mesmos deuses. Esse mar aberto de possibilidades seria uma tal responsabilidade que, acreditava Nietzsche, muitos não estariam dispostos a enfrentá-lo. A maioria continuaria a necessitar de regras e de autoridades dizendo o que fazer, como julgar e como ler-o-mundo.



segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O DIA DA MORTE

O Dia dos Fiéis Defuntos, Dia dos Mortos ou Dia de Finados é celebrado pela Igreja Católica no dia 2 de Novembro.

Desde o século II, alguns cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava. Também o abade de Cluny, santo Odilon, em 998 pedia aos monges que orassem pelos mortos. Desde o século XI os Papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia aos mortos. No século XIII esse dia anual passa a ser comemorado em 2 de novembro, porque 1 de novembro é a Festa de Todos os Santos. A doutrina católica evoca algumas passagens bíblicas para fundamentar sua posição (cf. Tobias 12,12; Jó 1,18-20; Mt 12,32 e II Macabeus 12,43-46), e se apóia em uma prática de quase dois mil anos.

O Dia de Finados para a Fé Protestante

Os Protestantes em geral, afirmam que a doutrina da Igreja Católica, que recomenda a oração pelos falecidos, é desprovida de fundamento bíblico. Segundo eles, a única referência a este tipo de prática estaria em II Macabeus 12,43-46. Porém os protestantes e evangélicos, pelo fato de serem, Ansinus in cathedra, não reconhecem a canonicidade deste livro e nem a legitimidade desta doutrina, uma vez que o Protestantismo não se submete às tradições católicas.

Segundo a interpretação protestante, a Bíblia diz que a salvação de uma pessoa depende única e exclusivamente da sua fé na graça salvadora que há em Cristo Jesus e que esta fé seja declarada durante sua vida na terra (Hebreus 7.24-27; Atos 4.12; 1 João 1.7-10) e que, após sua morte, a pessoa passa diretamente pelo juízo (Hebreus 9.27) e que vivos e mortos não podem comunicar-se de maneira alguma (Lucas 16.10-31).

Os Protestantes observam o dia de Finados para lembrar das coisas boas que os antepassados deixaram, como o legado de um caráter idôneo, por exemplo. Mas acreditam que as pessoas precisam ser cuidadas, unicamente, enquanto estão vivas.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

MERCADO RELIGIOSO – PAGANDO PARA “TER” E PAGANDO PARA “SER”

Os especialistas em tendência de mercado aponta o mercado religioso em sua busca pelo místico como uma grande fonte de investimento rentável. Das 20 mega tendência este segmento ocupa o 7º lugar no ranking. Algo espetacular, um filão de ouro capaz de despertar a cobiça e o empreendorismo de qualquer empresário.

Mas, se tratando de um segmento religioso os homens que disputam este filão de mercado são homens ditos “chamados”, porta-voz do Senhor dos céus e da terra (onde se processa o negócio). E aqui mora o perigo.

Imagino que muitos dos que estão inserido nesta tendência, estão sem conhecimento da existência deste mercado, porém, julgo eu, que muitos estão calculadamente dentro de um mega negócio chamado “igreja”.

A “Igreja” vende vários produtos; desde sonhos até as mais variadas fantasias espirituais; desde a água benzida até um terreno no céu na mais movimentada esquina com rua pavimentada em ouro, de frente para a bela praça da “árvore da vida”.

Na verdade ela não vende produtos, ela vende resultado. Uma rosa ungida é capaz de trazer o alívio do tormento do maligno; um sabonete da purificação traz o resultado da sensacional pureza da “mancha” do pecado.

Coisas deste nível gera decepção em alguns homens que não querem empresariar este negócio chamado “igreja”. Estes homens tem dois problemas. Primeiro eles estão fora de uma tendência de mercado; segundo eles não terão clientes, consequentemente seu discurso não será financiado.

É o preço que se paga na selva do capitalismo religioso. Se você não faz o negócio, você sai do mercado. Faliu. “Fechou a igreja” para usar o jargão evangélico.

Estamos caminhando para um momento da história da igreja que aqueles que se posicionarem na tendência de mercado vão ganhar muito dinheiro. Vão ficar muito rico os que visualizarem esta oportunidade. E vão ficar muito pobre, sem prebenda os teimosos pastores que insistirem num discurso [bíblico], porém fora da tendência de mercado.

A escolha é de vocês meus caros colegas. O mercado é para todos. Preferencialmente dos mais competitivos [espertos].

Aos empreendedores serão ricos porém “pobres”, e os pobres podem ser que sejam os “ricos” aos olhos do patrão e dono da Igreja – Jesus Cristo, que desconhece uma tendência de mercado, posto que a Igreja dele não está nas cogitações mercadológicas, mas na quietude do coração dos ‘pequeninos a quem ao Pai aprouve revelar’ tal segredo, escondido aos ricos, sábios e espertos deste mundo capitalista.





sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A TENDA: A PRESENÇA QUE SE AUSENTA E A AUSÊNCIA QUE SE FAZ PRESENTE

Observando os conceitos de acampamento e tenda entre o povo de Israel, vemos que esta é armada por Moisés "fora do acampamento, longe do acampamento". Como lugar de reunião e de oração, não pode confundir-se com o ruído e a euforia cotidianos. Tampouco pode situar-se muito longe do campo onde a vida sofre, luta e se debate. Tenda e acampamento se integram, se interpelam, se questionam, se complementam - mas não se mesclam. A tenda onde Deus se faz presente pela simbologia de "uma coluna de nuvem parada à sua entrada" deve permanecer suficientemente perto do acampamento, para que todo o povo pudesse levantar-se e prosternar-se enquanto "Senhor falava com Moisés face a face, como um homem fala com outro". Ao mesmo tempo, porém, a tenda deveria estar suficientemente afastada do acampamento, como ponto de referência que, sem se misturar ao burburinho diário, induz a um silêncio respeitoso frente à presença do Senhor.

Aqui também, como no episódio da sarça ardente, Deus não se deixa manipular. Encontra-se presente e ausente ao mesmo tempo. A proximidade e a distância da tenda em relação ao acampamento expressam, simultaneamente, essa presença que se ausenta, ou essa ausência que se faz presente. O mistério divino não se enquadra em nossos esquemas mentais, não se restringe ao programa de uma organização ou partido, não se esgota nas formulações históricas e culturais. A utopia da Terra Prometida rompe todas as fronteiras possíveis e imagináveis. O projeto de Deus não cabe nos limites da racionalidade humana. Por outra parte, esse mesmo projeto não está desvinculado dos desejos e temores que habitam e dilaceram a alma humana, lá na convivência do acampamento. É um projeto que começa no acampamento, isto é, no aqui e agora da história, mas ultrapassa seus limites, como uma utopia que sempre renova a ordem econômica, política, social e cultural de cada nação e de toda a humanidade.

Por isso a tenda. É nela que se localiza a arca do Senhor. Tenda é casa em movimento, permanentemente a caminho. Casa que se faz, desfaz e refaz a cada curva da estrada. Além disso, é abrigo aberto ao caminheiro que busca refúgio e descanso, lugar de acolhida. O contrário da tenda é a fortaleza, a casa cerrada e cercada por muros, cães e sistemas de segurança. Impenetrável aos peregrinos que necessitam recuperar suas energias para retomar a estrada. Deus está na tenda, paira sobre ela em forma de coluna de nuvem, oferece acolhimento e repouso. Mas, quando pensamos que o temos à mão, Ele se ausenta, dá um passo à frente, convidando-nos a desarmar a tenda e enfrentar o caminho no meio do deserto. Não é um Deus dos mortos e do passado, mas um Deus que a partir do futuro irrompe no presente, abrindo alternativas sempre distintas às encruzilhadas históricas.

Também não é um Deus que rejeita a obra humana. Ao contrário, caminha secretamente nas entrelinhas da história para dar-lhe um rumo e um sentido mais profundo, sem interferir na liberdade pessoal ou coletiva. Na busca humana de "um novo céu e uma nova terra", Senhor assume a cidade terrestre, fazendo dela "a tenda de Deus com os homens" para caminhar em direção à cidade celeste, onde "não haverá mais morte, nem luto, nem clamor e nem dor" (Ap 21. 1-8).

A casa-fortaleza tem raízes no chão. Aferra-se obstinadamente ao terreno conquistado. Guarda tesouros que a ferrugem e a traça corrompem, os ladrões podem roubar (Mt 6.19-21). A casa-tenda, ao contrário, em lugar de raízes tem pés. Pés que podem se converter em asas. No primeiro caso, temos o rico estabelecido, com o coração prisioneiro do próprio tesouro, "semelhante ao gado que se abate", como diz o salmista (Sl 49). No segundo caso, transparece a figura do peregrino. De tanto caminhar, aprende a depurar e purificar a bagagem, bem como a própria alma. Em vez de acumular riquezas que o prendem e escravizam à terra e à história, cria laços, costura rede de relações, cultiva amizades - bens que ninguém rouba e não ocupam espaço. Por isso pode caminhar e voar livremente.



domingo, 17 de outubro de 2010

ENTREVISTA COM LEONARDO BOFF - OS CATÓLICOS DIVORCIARAM DO MUNDO E OS EVANGÉLICOS UTILIZARAM OS INTRUMENTOS DO MERCADO

O teólogo Leonardo Boff é um dos maiores críticos brasileiros ao comportamento recente da Igreja Católica. Expoente da Teologia da Libertação, foi expulso da Igreja nos anos 80, por criticar sistematicamente a hierarquia da religião. Doutor em Filosofia e Teologia pela Universidade de Munique, Boff falou a ÉPOCA sobre os principais motivos da grande perda de fiéis da Igreja Católica para as evangélicas e pentecostais no Brasil e fez críticas ao movimento carismático, comandado pelos padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo. “Eles são animadores de auditório. Isso não leva ninguém à transformação. É um Lexotan”.

ÉPOCA – O Papa Bento XVI reconheceu, no último dia 10, a enorme perda de fiéis da Igreja Católica no Brasil e a rápida expansão das evangélicas e pentecostais. A que se deve isso?

Leonardo Boff - São três causas. Primeiro, a Igreja não consegue ter padres suficientes pra atender fiéis, por causa do celibato. São 17 mil, e teriam de ser uns 120 mil. As pentecostais ocupam esse vazio. Elas vão ao encontro das demandas do povo. O povo não é dogmático, vai pro centro espírita, vai pra macumba… Em segundo lugar, a grande desmoralização que a igreja sofreu com os padres pedófilos. É a maior crise desde a Reforma Protestante. É uma crise grave, porque se desmoralizou e perdeu o conteúdo ético. A maneira como o Vaticano se comportou foi desastrosa. Tentou encobrir e depois disse que era um complô internacional. Só quando começaram a aparecer muitos casos que o papa disse que tinha que punir. Mas, mesmo assim, não mostrou solidariedade com as vítimas e nem como mudar isso. Só pensa na Igreja. Em terceiro lugar, o fato de a Igreja ter uma visão muito abstrata da realidade. Uma linguagem que o povo não entende direito.

ÉPOCA – O senhor acredita que nas últimas décadas houve um retrocesso na modernização da Igreja Católica?

Boff - João Paulo II e Bento XVI abortaram as inovações de João Paulo I e afastaram a Igreja do mundo. A Igreja não tem dialogo com as outras igrejas. Falta uma reconciliação com o mundo moderno. Desde o século XVI que a Igreja vive em briga com ele. A igreja se abriu a isso e João Paulo II, com sua visão medieval, abortou tudo isso. A Igreja não tem mais poder político. Só tem poder moral. Reforçou a estrutura hierárquica tradicional. Marginaliza mulheres, e os fiéis têm a representatividade de garis. A igreja dos anos 60 aos 80, quando surgiram a Teologia da Libertação e os movimentos de base, foi abortada. Isso tornou a igreja antipática.

ÉPOCA – O que os católicos encontram nas outras igrejas que não encontram na Católica?

Boff - O povo quer uma mensagem compreensível e simples. As evangélicas utilizam os instrumentos do mercado e são muito calcadas em cima da prosperidade. Há uma grande manipulação das expectativas e do sentimento religioso do povo. Mas, ao mesmo tempo, elas são formas de ordenar a sociedade. Muitas famílias que viviam nas drogas e na bebedeira se estruturaram, se inseriram na sociedade. Fator de ordem..


ÉPOCA – Bento XVI disse que os padres não estão evangelizando suficientemente os fiéis e que as pessoas se tornam influenciáveis e com uma fé frágil. O senhor concorda?

Boff - O problema não é evangelizar. É a maneira como se faz. O catecismo e outros símbolos imutáveis são engessados, não falam no fundo das pessoas. É um cristianismo fúnebre. O padre Marcelo Rossi está imitando as pentecostais. Há um vazio de evangelização, é a relação pessoa e Deus. É melhor escutar o padre Rossi do que escutar a Xuxa, mas é a mesma coisa. Eles são animadores de auditório. Isso não leva ninguém à transformação. É um Lexotan. Depois volta a lógica dura da vida. É uma evangelização desgarrada da vida concreta.

ÉPOCA – O papa já se mostrou não ser muito favorável aos líderes mais carismáticos, como Marcelo Rossi e Fábio de Melo. Isso não complica as coisas?

Boff - O Vaticano e os bispos não gostam de ter sombra ao lado deles. E Roma não gosta disso. Por isso quer enquadrá-los. Eles são modernos e mercadológicos. Por outro lado, não levam as pessoas a refletirem sobre os problemas do mundo. O padre Rossi nunca fala dos desempregados e da fome. Só convida a dançar. Ele louva as rosas, mas esquece o jardineiro que as rega.

ÉPOCA – Qual seria a melhor forma de atrair quem anda distante da Igreja Católica?

Boff - A melhor forma é aquilo que a Igreja da Libertação faz desde os anos 70. Reunir cristãos pra confrontar a página da Bíblia com a da vida. Uma evangelização ligada ao cotidiano e às culturas locais. Uma coisa no Nordeste, outra na Coreia. Essa visão proselitista é ofensiva à liberdade humana.]

ÉPOCA – Essa tendência de crescimento das outras igrejas se reflete em outros países tradicionalmente católicos. Ela é universal?

Boff - É um fenômeno mundial chamado imigração interna do cristianismo. Muitos cristãos da Europa que estudaram estão migrando de igreja. Não aceitam esse tipo de igreja. O cristianismo na Europa é agônico. A Alemanha, por exemplo, que tem o imposto religioso, o destina para a luta contra a aids. É outra visão. Tanto que a maior religião do mundo já é a mulçumana, que cresce muito na África. É simples. Não tem padre, nem bispo. Atrai muito mais as pessoas.

Fonte: Revista Época

sábado, 16 de outubro de 2010

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A MANIPULAÇÃO DO NOME DE DEUS

Era inevitável que as religiões, inclusive o cristianismo, se aproximassem dos meios de comunicação. Afinal, evangelho quer dizer exatamente "boa notícia". Portanto, são meios que podem ser postos a esse serviço. Porém, o que se está fazendo com esses meios de comunicação em nome de Deus é que é a questão. Não se espere daí uma palavra profética em nome da justiça, dos pobres, porque é um anúncio mutilado que precisa sobreviver segundo as regras do mercado.

Ligando o rádio, vamos ouvir mais uma vez uma série de programas católicos e evangélicos. Grande parte é programa musical, dessas com uma pobreza literária, melódica, bíblica, teológica de arrepiar os ossos, com meia dúzia de palavras já previsíveis -amém, aleluia, glória, eu e Deus, Deus e eu, eu te amo- inundando nossos ouvidos. O capital demorou para descobrir que religião é um ótimo comércio, mas agora explora até a última medalhinha milagrosa para fazer dinheiro.

Mas, não é só. Pregadores desfilam programas comprados em outros canais comerciais tanto durante o dia como pelas madrugadas. Há uma super oferta de pregações, cultos, missas, terços - misturados com ofertas de produtos -, sempre em nome de Deus.

O certo é que, em nenhuma outra época, se manipulou tanto o nome de Deus como nessa que vivemos. Nessas eleições, então, chegou-se às raias da aberração. A difamação, calúnia, parcialidade, tanto por alguns bispos católicos, quanto por alguns pastores perdeu qualquer referência bíblica de respeito pelo próximo. Com dois pesos e duas medidas para avaliar e recomendar candidatos perdeu-se até o senso da dignidade.

Ninguém manipula a Deus, mas pode manipular seu nome. E os meios de comunicação tornaram-se o altar da profanação do “Santo Nome de Deus”.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O BENEFÍCIO DA CRISE DE FÉ

A Igreja sempre reagiu contra as chamadas “dúvidas de fé”, que na verdade nada mais é do que “dificuldades de crença”, dificuldades com nossa idéia sobre Deus. Em algum momento nossa fé vive entusiasticamente, mas outras, pelo contrário, tudo é frieza e sentimento de afastamento de Deus. João da Cruz, o místico a chamou de “noite escura”.

A crise de fé é uma oportunidade para conhecer melhor a Deus, mas na vida de alguns crentes esta crise pode ser devastadora. Vejo nesta crise uma oportunidade de purificação de nossos “deuses de bolsos”, aqueles deuses feito à nossa imagem e semelhança muito comum a todos os crentes.

O silêncio de Deus nada mais é que a morte de uma ‘imagem’ concreta de Deus. Uma imagem pobre demais, que havíamos fabricado ao longo dos anos de ‘relacionamento’ com Ele, é que agora diante de uma nova situação não funciona mais, não responde as nossas expectativas, nos defrauda.

Tal qual os discípulos de Emaús, a identidade ou a imagem que eles possuíam de Cristo já não respondia as suas expectativas, naquela tarde de domingo. Estavam em crise de fé. O coração ardia, mas os olhos não enxergavam nada mais além de um “peregrino” a mais que se juntou a eles naquela jornada.

A crise de fé revela uma oportunidade e ao mesmo tempo um perigo. Oportunidade como já disse de purificação de falsas imagens de Deus, mas perigo de rejeitar o Deus verdadeiro, confundido-o com a imagem que rejeitamos. Todavia a fé é capaz de suportar a dúvida, a mais terrível dúvida.

A oportunidade que nos proporciona a dúvida da fé permite que tiramos uma conclusão: se antes nos acusávamos de ter dúvidas de fé, hoje deveríamos procurá-la de propósito, como a única maneira de irmos passando do deus de madeira ao Deus de verdade.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ECOLOGIA SOCIAL EM FACE DA POBREZA E DA EXCLUSÃO

Leonardo Boff


Hoje se fala das muitas crises sob as quais padecemos: crise econômica, energética, social, educacional, moral, ecológica e espiritual. Se olharmos bem, verificamos que, na verdade, em todas elas se encontra a crise fundamental: a crise do tipo de civilização que criamos a partir dos últimos 400 anos. Essa crise é global porque esse tipo de civilização se difundiu ou foi imposto praticamente ao globo inteiro.

Qual é o primeiro sinal visível que caracteriza esse tipo de civilização? É que ela produz sempre pobreza e miséria de um lado e riqueza e acumulação do outro. Esse fenômeno se nota em nível mundial. Há poucos países ricos e muitos países pobres.

Nota-se principalmente no âmbito das nações: poucos estratos beneficiados com grande abundância de bens de vida (comida, meios de saúde, de moradia, de formação, de lazer) e grandes maiorias carentes do que é essencial e decente para a vida.

Mesmo nos países chamados industrializados do hemisfério norte, notamos bolsões de pobreza (terceiromundialização no primeiro mundo) como existem também setores opulentos no terceiro mundo (uma primeiromundizalização do terceiro mundo), no meio da miséria generalizada.

As críticas a seguir visam a denunciar as causas dessa situação.

Há três linhas de crítica ao modelo de civilização e de sociedade atual, como foi sobejamente apontado por notáveis analistas.

A primeira é feita pelos movimentos de libertação dos oprimidos. Ela diz: o núcleo desta sociedade não está construído sobre a vida, o bem comum, a participação e a solidariedade entre os humanos. O seu eixo estruturador está na economia de corte capitalista. Ela é um conjunto de poderes e instrumentos de criação de riqueza e aqui vem a sua característica básica mediante a depredação da natureza e a exploração dos seres humanos.

A economia é a economia do crescimento ilimitado, no tempo mais rápido possível, com o mínimo de investimento e a máxima rentabilidade. Quem conseguir se manter nessa dinâmica e obedecer a essa lógica, acumulará e será rico, mesmo à custa de um permanente processo de exploração.

Portanto, a economia orienta-se por um ideal de desenvolvimento material que melhor chamaríamos, simplesmente, de crescimento, que se coloca entre dois infinitos (...): o dos recursos naturais pressupostamente ilimitados e o do futuro indefinidamente aberto para frente.

Para este tipo de economia do crescimento, a natureza é degradada à condição de um simples conjunto de recursos naturais, ou matéria-prima, disponível aos interesses humanos particulares. Os trabalhadores são considerados como recursos humanos ou, pior ainda, material humano, em função de uma meta de produção.

Como se depreende, a visão é instrumental e mecanicista: pessoas, animais, plantas, minerais, enfim, todos os seres perdem os seus valores intrínsecos e sua autonomia relativa. São reduzidos a meros meios para um fim fixado subjetivamente pelo ser humano, que se considera o centro e o rei do universo.

Leonardo Boff (Santa Catarina, 14 de dezembro de 1938, Filosofo e Teólogo), Ética da Vida, Ed. Vozes.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

BULTMANN – O ENCONTRO DESINTERESSADO

Como especialista em Novo Testamento, Bultmann procurou transmitir o centro da mensagem cristã de uma forma que fosse compreensível para o ser humano de sua época, que não enxergava o mundo da mesma forma que uma pessoa do primeiro século. Sem menosprezar a historicidade de Jesus, para Bultmann o que realmente importava a respeito de Cristo era sua mensagem.

Através do kerigma, isto é, da proclamação, o ser humano é desafiado a dizer sim ou não à pessoa de Jesus Cristo. “A convicção de Bultmann foi que apenas com a proclamação da Palavra o acontecimento de Jesus se torna um acontecimento salvífico para nós; a saber, na recepção da fé”, afirma o pastor e teólogo luterano brasileiro Walter Altmann, presidente do Conselho Mundial de Igrejas.
Seguindo a corrente filosófica existencialista de Martin Heidegger, Bultmann chegou à conclusão de que a vida humana é desprovida de qualquer sentido. Tal sentido somente seria preenchido por um contato direto com Deus, obtido exclusivamente pela fé em Jesus Cristo. Temos aqui a reafirmação de um dos principais dogmas da Reforma, o conhecido “sola fide”, isto é, só a fé. Não obstante, a fé, para ser realmente fé, não deve se apoiar em qualquer outro meio que não seja Cristo. Comprovações históricas ou científicas, assim como a atenção demasiada a milagres, levam o ser humano a condicionar sua fé a elementos materiais.
Para o teólogo de Marburg, fé é uma auto entrega completa do ser humano nas mãos de Deus, fé que abre mão de comprovações de qualquer espécie.

Nos dias atuais, infelizmente, o centro da pregação e até mesmo da fé cristã está sendo invertida. De um lado, grupos fundamentalistas firmam suas crenças em supostas comprovações científicas de pormenores insignificantes do texto bíblico. Não percebem que, desta forma, estão submetendo Deus ao pensamento humano. Em outra esfera, a fé tem sido um exercício baseado apenas em milagres e prodígios que visam à satisfação material das pessoas. Cristo tem sido seguido por aquilo que ele pode proporcionar, não pelo que ele realmente é, o único capaz de conceder um verdadeiro sentido à alma carente de Deus.
Por esta razão, a teologia de Rudolf Bulmann, que nada mais é do que a valorização do encontro desinteressado da pessoa com Cristo, pode ser uma ferramenta para a proclamação do evangelho ao mundo moderno.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

POR QUE ME TORNEI A-RELIGIOSO

Eu tenho sérios problemas com a religião. Desgostoso com a religião, dificilmente vocês não irão me ouvir ou ler a respeito de minhas críticas a esse mal terrível que é a religião. Mas não quero apenas criticar, quero também apresentar algumas razões para a minha acidez sobre a religião.

1. A religião é apenas um reflexo - A religião é um reflexo apenas do homem de si mesmo, buscado na realidade fantástica do céu, de onde ele busca um modelo de super-homem, para consolá-lo em suas fraquezas e debilidades, com isso a religião castra e limita as possibilidades de luta do homem, tornando-o dependente do céu e dos rituais que o coloca em contato com este céu;

2. A religião é uma criação do homem que se perdeu de vez - A religião é criada pelo homem como a sua autoconsciência e auto- consentimento de que está perdido e ainda não se encontrou ou que se perdeu de vez, não lhe restando outra opção se não o altar da religião, gerando um escapismo do mundo do qual ele é filho e produto. Isso o leva a lutar ou transferir sua revolução diária para o “outro mundo”, gerando uma fuga da realidade;

3. “A religião é o ópio do povo” – Tomando emprestada a célebre frase de Karl Marx aceito sua teoria que “A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.” (Karl Marx)

4. A religião é promotora de uma felicidade ilusória no povo - É a forma encontrada para cegar e ensurdecer o povo que vive num vale de lágrimas, muitas das vezes provocada pelos governantes com aquiescência dos sacerdotes mentores deste engano. O homem precisa acordar, agir e organizar sua realidade como um homem que recobrou sua razão e levantou de seu sepulcro existencial.

5. A religião é apenas um sol fictício que se desloca em torno do homem enquanto este não se move em torno de si mesmo. Tornando-o auto-alienado, não se importando com sua história nem com a história de seus circunstantes. Não vendo o mundo como ele é nem exercendo sua missão transformadora, pois o mesmo está impelido pela esperança de um discurso apocalíptico em que finalmente as coisas serão o que terão que ser.





sexta-feira, 10 de setembro de 2010

DE VOLTA A “FOGUEIRA DA SANTA INQUISIÇÃO” - E DESTA VEZ É UM BATISTA QUE PRETENDE RISCAR O FOSFÓRO!

Às vésperas do 11 de Setembro, o plano do pastor batista Terry Jones seria fazer uma grande fogueira no próximo sábado. Nos Estados Unidos, às vésperas do 11 de Setembro, uma preocupação que não estava nos planos mobiliza a Casa Branca. O governo tenta contornar o delírio de um pastor, que propôs aos americanos queimar exemplares do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos. O pastor batista Terry Jones, de 58 anos conclamou os seguidores de sua igreja na Flórida, a fazer no próximo sábado uma fogueira no terreno da congregação. O ato ameaça deflagrar uma onda de protestos e violência pelo mundo. Apesar da pressão, que veio de todos os lados, o pastor disse que vai manter o plano.


Fico pensando o que este cara tem na cabeça. Estamos em pleno século 21, aonde se prega o diálago inter-religioso e este cara está juntando as cinzas e o resto do carvão da santa inquisição e reacendendo a chama do ódio religioso. Este fundamentalismo idiota sempre foi o barril de pólvora e ele ainda não está esgotado, pode explodir a qualquer momento, basta um idiota como este Terry Jones, como uma bíblia e um alcorão na mão e um palito de fósforo de intolerância na outro e todo mundo vai mais cedo para “o seio de Abrãao”, ou para “os seios das 70 virgens”. É morrer pra ver (o que não me interessa nestes dias).



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O CONFLITO ENTRE ISRAEL E PALESTINOS - ISRAEL TAMBÉM NÃO É “FLOR QUE SE CHEIRE”!

Durante muito tempo os cristãos sempre olharam Israel como a “menina dos olhos de Deus” e jamais ousaram se colocar contra ou criticar as ações de Israel, seja a mais atroz que fossem. O medo de ser considerado anti-semita e atrair a “maldição de Deus” também é forte argumento para a cristandade se manter ou neutra ou do lado de Israel seja o que for que Israel esteja praticando.

Particularmente penso bem diferente da maioria dos cristãos. Principalmente daqueles que de forma supersticiosa buscam “unção” e contato com Jeová através das romarias e peregrinações a “terra santa”. A famosa “terra santa”, supre o mercado supersticioso do Brasil ‘evangélico’ desde a barrenta água do Jordão até os mais raros óleos de unção.

Mas hoje a conversa não gira em torno deste mercado. A questão é mais complexa, Israel como nação não é “flor que se cheira”. E além de não querer cheirar esta flor, gostaria de explicar o porquê da minha opção.

1. DESMENTINDO AS MENTIRAS ACERCA DE ISRAEL

Algumas mentiras plantadas na opinião pública pela propaganda americana e sionista

1. "Aquela região sempre esteve em guerra". Durante mais de 900 anos a paz entre muçulmanos, judeus e cristãos reinou na Palestina e em todo o Oriente Médio, sendo quebrada apenas no início do século XX.
2. "Os Palestinos não cumprem os acordos de paz". A guerra étnica que Israel, com poderoso apoio americano, perpetra contra os Palestinos é um genocídio de que os Palestinos se defendem como podem. Cada acordo de paz, desde 1948, remove uma porção do território palestino e Israel jamais respeitou. O último acordo, Oslo, 1993, reduziu para 22% o território concedido à Palestina pela ONU em 1948. A Palestina aceitou, mas Israel não respeita e não permite a criação do Estado Palestino. Segue confiscando terras dos Palestinos diuturnamente.

3. "Os Estados Unidos são neutros". Os EUA gastam mais dinheiro enviando armamento e dinheiro para Israel do que em seus próprios Estados federados, portanto são tudo, menos "neutros".

4. "Todos que discordam do Estado de Israel são anti-semitas". Israel está em violação direta da legislação internacional. Pratica cotidianamente mais de 20 crimes contra os direitos humanos (devidamente analisados pela Anistia Internacional, incluindo aprisionamentos arbitrários, torturas, fuzilamentos, destruição de casas com seus habitantes desesperados no interior, de crimes de guerra - bombardeios de vilas pacíficas para desalojar moradores e criar assentamentos, expropriação de territórios internacionalmente reconhecidos, etc. Tais atos sejam eles praticados pela Alemanha de Hitler ou pelo Estado de Israel com o apoio dos EUA merecem o repúdio internacional, isto não constitui anti-semitismo.

2. VERDADES ACERCA DO CONFLITO RECENTE

Há duas questões primárias, que estão na raiz destes conflitos contínuos desde a criação do Estado de Israel até o dia de hoje:

1. O efeito desestabilizante de se manter um Estado com preferências étnico-religiosas, particularmente quando é massiçamente composto por um povo de origem externa – a população original do que é hoje Israel era composta por 96% de muçulmanos e cristãos. Nos territórios ocupados por Israel, refugiados muçulmanos e cristãos são proibidos de retornar as suas casas e aqueles que vivem no Estado de Israel são submetidos à sistemática discriminação.
2. O estrangulamento econômico e ao vandalismo praticado por Israel contra todos os aspectos de representação cultural palestina. O documentário “Peace, Propaganda and The Promised Land”, dirigido por Sut Jhally e contando com a participação de intelectuais e ativistas judeus, ocidentais e palestinos, percebe-se como é difícil a vida dos palestinos nos territórios ocupados, dentre as dificuldades eles destacam algumas atitudes praticada pelos israelitas:

• Destroem bairros inteiros de casas palestinas – sob a falsa alegação de se tratar de “retaliação” a homens-bomba – a fim de que se construam luxuosos condomínios israelitas.
• O fornecimento da vital água corrente às populações nativas restringe-se há 2 horas por semana enquanto, nos vizinhos condomínios judeus fechados mantêm-se piscinas e regam-se plantas ostensivamente todos os dias.
• E verdade que os palestinos têm controle sobre suas próprias casas durante algum tempo (jamais sabem quando suas vivendas podem ser consideradas “de interesse da segurança nacional de Israel” e assim perder seu direito a moradia), contudo, todas as estradas e passagens dentro do território que em 1948 a ONU decretou ser o Estado Palestino, mas Israel jamais respeitou, são controladas por Israel.
• Os habitantes palestinos resistem como podem à contínua ocupação militar israelense e o confisco de propriedades fundiárias na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Estes espaços, reduzidos em 22% do que foi decidido pela ONU em 1947, deveriam se tornar o Estado Palestino, segundo os acordos de paz de Oslo, de 1993. Contudo, uma vez que Israel não apenas posterga há já 15 anos o cumprimento dos Acordos de Oslo como vem ampliando o confisco e a ocupação de terra naqueles territórios, os palestinos se rebelam.
Ora, tanto Israel quanto os palestinos tem sua parcela de contribuição neste conflito. Não defendo Israel só porque ele é o ‘povo de Deus’ do AT, escolhido para o propósito de fazer o nome de Jeová conhecido entre outras nações. Também não estou aqui morrendo de “amor” pelos palestinos. Mas Israel também não é flor que se cheire.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

ESTOU FORA DA IGREJA!

Aos meus leitores e seguidores, saibam que:


1. Estou fora desta igreja que, de pouco se diferem dos romanos antigos que consultavam as aves e dos gregos pagãos que consultavam os astros, que consultam a Bíblia, dando eles mesmo sentido ao texto, que mais favorecem seus caprichos e interesses;

2. Estou fora desta igreja que, obedecem à hierarquia, enquanto bem lhes convém, para logo depois fundarem uma igreja que melhor lhes adapte às suas convicções subjetivas. (Atualmente abre-se 14.000 igrejas por ano só no Brasil).

3. Estou fora desta igreja cujos líderes espirituais fazem do povo gado tocados ao seu bel prazer;

4. Estou fora desta igreja aonde o púlpito tem mais prazer em subjugar do que libertar;

5. Estou fora desta igreja que se transformou em sinagoga de armínio que mina a graça de Cristo;

6. Estou fora desta igreja cujos pastores que, em vez de viverem para prover espiritualmente o rebanho, vivem para serem providos materialmente pelo rebanho;

7. Estou fora desta igreja mística, materialista e pragmática;

8. Estou fora desta igreja que, faz do culto ao Senhor um produto de consumo e uma terapia de grupo bem remunerada.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

VOU DEIXAR DE SER ‘EVANGÉLICO’ PARA NÃO ME TORNAR CATÓLICO

Está fazendo um ano que escrevi este artigo e enviei para um amigo, que brincou comigo dizendo: “vou mandar publicar isso no batista nacional”. Levei na brincadeira e meses depois comecei a receber telefonemas e e-mail perguntando o que era aquilo, porque tinha desviado, porque havia deixado de ser ‘crente’ e coisas afins. Não entendia o porquê do questionamento até que alguém me disse que haviam publicado um artigo assinado por mim no jornal O Batista Nacional, com este título: “VOU DEIXAR DE SER ‘EVANGÉLICO’ PARA NÃO ME TORNAR CATÓLICO” e o que segue é a transcrição na íntegra conforme o jornal publicou no terceiro trimestre de 2009.
A família do meu pai era toda católica; a da minha mãe, batista. Minha mãe se viu sufocada pelo catolicismo de meu pai até os idos de 60, quando se converteu no movimento da Renovação Espiritual. Nasci entre dois berços, o católico e o batista. Em minha adolescência me tornei batista, algo esperado uma vez que o catolicismo não era tão influente na vida de meu pai (que também se tornou batista nos anos 90). Não fui batizado, nem crismado, nem estudei o catolicismo católico.
Hoje me deleito lendo a teologia católica, alguns pais, outros medievais, uns modernos, outros progressistas. Não me prendo nas eras mais gosto deles. Ler os católicos me abriu os olhos para perceber algumas coisas em nossa igreja ‘protestante’. Eles nos chamam de ‘irmãos desviados’ e creiam, podem nos ensinar um pouco com sua história. A história também nos ensina muitas coisas, inclusive como eles estão se convertendo e nós nos desviando.
Você reparou como tem sido a pregação em muitas paróquias católicas, ou mesmo, o que pregam os padres na televisão? Fascinante! Atentou o que tem sido pregado nas catedrais evangélicas, ou nos canais de TV de nossos irmãos?
Apesar de gostar da teologia deles eu não quero me tornar católico. Já passei da idade. Não o fiz naquela época agora não me interessa mais. Mas também não quero continuar sendo ‘evangélico’... não este ‘evangélico’ que está por aí. Não posso dizer que sou esse tipo de ‘evangélico’ pois vai de encontro à consciência teológica que formaram dizendo: isso é ser evangélico e aquilo é ser católico.
Cresci dividido entre a teologia católica e a teologia evangélica. Ensinaram-me que nós estávamos certos e eles errados. Agora, tudo ou quase tudo que eles pregavam e nós refutávamos, de repente, eles silenciam e alguns fazem ecoar em nossos púlpitos.
Lembro-me de minha avó, senhora muito devota, tinha em casa os quadros e as imagens dos santos de devoção. Duas imagens se destacavam: Nossa Senhora da Penha e São Sebastião. Talvez por isso tivesse tanto Sebastião e Sebastiana em nossa família. Lá estavam o terço, o rosário, a vela e o oratório. Ela sabia todas as rezas de cor e salteado, era católica praticante.
Em nossa casa não tínhamos nenhuma imagem, nenhum santinho. Não éramos católicos. Naquela época quem era evangélico não podia e nem precisava ter estas coisas em casa. Mais hoje para ser um crente fervoroso, piedoso e devoto mesmo, é preciso ter: água benzida pelo missionário ou apóstolo tal, cajado do impossível, toalhinha consagrada, martelinho, tijolinho, espada, ramo de arruda, sal grosso, sabonete da purificação, óleo ungido de Israel, água do Rio Jordão, rosa do descarrego, chave das promessas, chave de Davi...
Ah! Que saudades da casa de minha avó! Pelo menos lá ela nos contava as proezas e os ensinos dos santos de devoção. Se a gente não recebesse graça nenhuma, pelo menos ficava o aprendizado e o deleite de uma boa história. Tudo de graça, não gastávamos um centavo se sequer. Ora, minha avó (que Deus a tenha) era tida pelos evangélicos como cega, idólatra e perdida. E estes evangélicos, quem lhes apontará o dedo em juízo e os chamará de cegos, idólatras e perdidos? Os católicos? Ah, quem dera alguém nos trouxesse de novo a luz, ao menos de uma vela. Até que isso aconteça, vou deixar de ser ‘evangélico’, porque não quero me tornar católico romano disfarçado.

sábado, 7 de agosto de 2010

DEUS COMO MODELO DE PATERNIDADE

“... Pai nosso, que estás nos céus...” (Mateus 6.9)

01). O MODELO DE “PAI” TAL COMO O FILHO NOS REVELOU

1. Purificando nosso coração das imagens paternas oriunda de nossa história pessoal e cultural
· A purificação do coração diz respeito às imagens paternas ou maternas oriundas de nossa história pessoal e cultural e que influenciam nossa relação com Deus
· Antes de fazer nossa esta primeira invocação da Oração do Senhor, convém purificar humildemente nosso coração de certas imagens falsas a respeito "deste mundo".
· A humildade nos faz reconhecer que "ninguém conhece o Pai senão o Filho ele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11 ,27), isto e, aos pequeninos" (Mt 11,25).

2. Orar ao Pai é entrar em seu mistério, tal qual Ele é, e tal como o Filho no-lo revelou:
· A expressão "Deus Pai" nunca fora revelada a ninguém. Quando o próprio Moisés perguntou a Deus quem Ele era, ouviu outro nome.
· A nós este nome foi revelado no Filho, pois este nome novo implica o nome novo de Pai.
· Podemos invocar a Deus como "Pai", porque Ele nos foi revelado por seu Filho feito homem e porque seu Espírito no-lo faz conhecer. Aquilo que o homem não pode conceber nem as potências angélicas podem entrever, isto é, a relação pessoal do Filho com o Pai, eis que o Espírito do Filho nos faz participar nela (nessa relação pessoal), nós, que cremos que Jesus é o Cristo e (cremos) que somos nascidos de Deus.
· A primeira palavra da Oração do Senhor é uma bênção de adoração, antes de ser uma súplica. Pois a Glória de Deus é que nós o reconheçamos como "Pai", Deus verdadeiro. Rendemo-lhe graças por nos ter revelado seu Nome, por nos ter concedido crer nele e por sermos habitados por sua Presença.

02). O MODELO DA APROXIMAÇÃO CONFIANTE

1. Cristo ao nos dar esta expressão “Pai nosso” nos ensina a aproximação confiante e ousada
· Diante da sarça ardente, foi dito a Moisés: "Não te aproximes daqui; tira as sandálias" (Ex 3,5).
· Este limiar da Santidade divina só Jesus podia transpor, Ele que, "depois de ter realizado a purificação dos pecados" (Hb 1,3), nos introduz diante da Face do Pai: "Eis-me aqui com os filhos que Deus me deu" (Hb 2,13).
· Quando ousaria a fraqueza de um mortal chamar a Deus seu Pai, senão apenas quando o íntimo do homem é animado pela Força do a1to?
Nas liturgias do Oriente e do Ocidente existe uma bela expressão tipicamente cristã: "parrhesia", simplicidade sem rodeios, confiança filial, jovial segurança, audácia humilde, certeza de ser amado.
· Aos pais e filhos: Este modelo de aproximação confiante deve perdurar entre pais e filhos, de um lado o pai proporciona condição favorável para a aproximação do filho, removendo todos os possíveis obstáculos, do outro lado, o filho exercendo confiança no pai, se aproxima de coração aberto e confiante no amor paternal, na qual ele pode reclinar e descansar na certeza de que será amado a despeito de suas fraquezas.

03). O MODELO DA CONVERSÃO CONTÍNUA

1. Jesus nesta expressão nos leva a revelação de nós mesmos ao mesmo tempo que o Pai nos é revelado
a) Quanto a nós:
· Não ousavamos levantar nosso rosto ao céu,
· Baixavamos nosso olhos para a terra,
· E de repente recebemos a graça de Cristo: todos os nossos pecados nos foram perdoados.
· De servos maus tornamos bons filhos
· Por isso levantemos, pois, nossos olhos para o Pai que nos resgatou por seu Filho e dizemos: “Pai nosso...” Mas não exijas nenhum privilégio. Somente de Cristo Ele é Pai, de modo especial; para nós é Pai em comum, porque gerou somente a Ele; a nós, ao invés, Ele nos criou. Dize, portanto, também tu, pela graça: Pai Nosso, a fim de mereceres ser seu filho.
2.Este dom gratuito da adoção exige de nossa parte uma conversão contínua e uma vida nova. Orar a nosso Pai deve desenvolver em nós, duas disposições fundamentais:
a). Primeira disposição fundamental: o desejo e a vontade de assemelhar-se a Ele. Criados à sua imagem, é por graça que a semelhança nos é dada e a ela devemos responder.
· Quando chamamos a Deus de "nosso Pai", precisamos lembrar-nos de que devemos comportar-nos como filhos de Deus.
· Não podeis chamar de vosso Pai ao Deus de toda bondade, se conservais um coração cruel e desumano; pois nesse caso já não tendes mais em vós a marca da bondade do Pai celeste.
· É preciso contemplar sem cessar a beleza do Pai e com ela impregnar nossa alma.
b). Segunda disposição fundamental: um coração humilde e confiante que nos faz "retornar à condição de crianças" (Mt 18,3), porque é aos pequeninos que o Pai se revela (Mt 11,25):
· É um olhar sobre Deus tão-somente, um grande fogo de amor.
· A alma nele se dissolve e se abisma na santa dileção, e se entretém com Deus como com seu próprio Pai, bem familiarmente, com ternura de piedade toda particular.
· Nosso Pai: este nome suscita em nós, ao mesmo tempo, o amor, a afeição na oração, (...) e também a esperança de alcançar o que vamos pedir... Com efeito, o que poderia Ele recusar ao pedido de seus olhos, quando já antes lhes permitiu ser seus filhos.
· Aos pais e filhos: Deve haver uma disposição de conversão entre pais e filhos, todos desejando sempre se voltar uma para o outro, reconhecendo os erros e perdoando as ofensas.

04). MODELO DE UMA NOVA RELAÇÃO

1. Pai "Nosso" refere-se a Deus. De nossa parte, este adjetivo não exprime uma posse, mas uma relação inteiramente nova com Deus.
· Quando dizemos Pai "nosso", reconhecemos primeiramente que todas as suas promessas de amor anunciadas pelos profetas se cumprem na nova e eterna Aliança em Cristo: nós nos tornamos seu Povo e Ele é, doravante, "nosso" Deus.
· Esta relação nova é uma pertença mútua dada gratuitamente: é pelo amor e pela fidelidade que devemos responder "à graça e à verdade" que nos são dadas em Jesus Cristo.
2.Pai “Nosso” uma relação que transcende o tempo presente
· Este "nosso" exprime também a certeza de nossa esperança na última promessa de Deus; na Jerusalém nova, dirá Ele ao vencedor: "Eu serei seu Deus e ele será meu filho" (Ap 21,7).
3.Pai “Nosso” é um apelo a relação de unidade dos cristãos
· Por isso, apesar das divisões dos cristãos, a oração ao "nosso" Pai continua sendo o bem comum e um apelo urgente para todos os da comunidade dos batizados manterem-se unidos como unido está os membros da Trindade Santa.
4.Pai “Nosso” uma apelo para superarmos as nossas divisões e oposições
· Verdadeiramente ao orarmos "Nosso Pai", saímos do individualismo, pois o amor que acolhemos nos liberta (do individualismo). O "nosso" do início da Oração do Senhor, como o "nós" dos quatro últimos pedidos, não exclui ninguém. Para que seja dito em verdade, nossas divisões e oposições devem ser superadas.
· Não podemos rezar ao Pai "nosso" sem levar para junto dele todos aqueles por quem Ele entregou seu Filho bem-amado.
· O amor de Deus é sem fronteiras; nossa oração também deve sê-lo. Orar ao "nosso" Pai abre-nos para as dimensões de Seu amor manifestado no Cristo: Esta solicitude divina por todos os homens e por toda a criação deve animar a todos quantos se dizem “filhos” do “Nosso” Pai.
· Aos pais e filhos: A esperança de dias melhores, a busca da unidade na família e a superação das divisões e oposições no lares devem nortear a vida de pais e filhos, neste dia especial.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

NOVO TESTAMENTO E MITOLOGIA

1. A CONCEPÇÃO DO UNIVERSO DO NOVO TESTAMENTO É MÍTICA

1.1. O universo no NT é dividido em três andares

· No meio se encontra a terra – Lugar do natural, do cotidiano, da providência, do trabalho e também cenário da atuação de poderes sobrenaturais, de Deus e de seus anjos, de Satã e seus demônios;

· Sobre a terra o céu – Morada de Deus e das figuras celestiais, os anjos;


· Abaixo da terra o mundo inferior – O mundo inferior é o inferno, lugar de tormento.

1.2. A crença de que poderes sobrenaturais interferem nos acontecimentos naturais

· Poderes sobrenaturais interferem no pensar, querer e agir do ser humano;
· Milagres não são raro;
· O ser humano não tem poder sobre si mesmo;
· Demônios podem possuí-lo, Satã pode lhe incutir pensamentos malignos;
· Deus pode dirigir seu pensar e querer pode fazê-lo ter visões celestiais, fazê-lo ouvir sua palavra imperativa e consoladora, pode presentear-lhe a força sobrenatural do seu Espírito;
· A história não percorre seu caminho por suas próprias leis, mas obtém seu movimento e direção dos poderes sobrenaturais;
· O presente século encontra-se sob o poder de Satã, do pecado e da morte;
· Este século se encaminha rapidamente para o seu fim que ocorrerá numa catástrofe cósmica, trazendo o tempo final, a vinda do juiz celestial, a ressurreição dos mortos, o julgamento para a salvação ou perdição.

1.3. A proclamação emprega linguagem mitológica

· Na plenitude do tempo Deus enviou seu Filho;
· Seu Filho, um ser divino preexistente, aparece na terra como um ser humano;
· Sua morte na cruz, a qual ele sofre como um pecador propicia expiação para os pecados dos seres humanos;
· Sua ressurreição é o começo da catástrofe cósmica através da qual será aniquilada a morte, trazida ao mundo por Adão;
· O ressurreto foi levado ao céu, à direita de Deus, ele foi transformado em “Senhor” e “Rei”;
· Retornará sobre as nuvens do céu para consumar sua obra salvadora, quando ocorrerá a ressurreição dos mortos e o juízo, onde todo pecado e todo sofrimento será finalmente aniquilado;
· Tudo isso acontecerá em breve; Paulo é de opinião que ainda experimentaria pessoalmente este evento;
· O fiel está ligado a comunidade de Cristo pelo batismo e pela ceia do Senhor, e pode estar seguro de sua ressurreição para a salvação, se não se comportar de maneira indigna;
· Os crentes já possuem o “penhor”, a saber, o Espírito Santo, que age neles e testifica sua filiação de Deus e garante sua ressurreição.

2. A IMPOSSIBILIDADE DO RESTABELECIMENTO DA CONCEPÇÃO MÍTICA DO UNIVERSO DO NOVO TESTAMENTO

2.1. O Novo Testamento como linguagem mitológica

· Sendo uma linguagem mitológica, ela é inverossímil para o homem de hoje, pois para ele a concepção mítica é algo passado;
· A verdade proclamada no NT é verdadeira independente da concepção mítica do universo, a tarefa da teologia é demitologizar a proclamação cristã;
· A tarefa da teologia é portanto tornar esta verdade aceitável ao pensamento do homem moderno. Exigir do homem moderno uma aceitação cega da concepção mítica do universo, depois que o nosso pensamento foi moldado pela ciência, é no mínimo arbitrário.
· Não podemos afirmar uma fé numa concepção de universo que, no demais de nossa vida, negamos.

2.2. Conhecimentos atuais e confissões antigas do universo mítico do NT

· Qual o sentido de confessar hoje “desceu ao inferno” ou “subiu ao céu” já que não compartilhamos mais da idéia do universo em três patamares;
· Não partilhamos da idéia de um Deus morando no céu, ou de almas penadas morando no inferno, no sentido da idéia antiga do NT;
· Através do conhecimento das forças e leis da natureza, os astros, deixaram de ser seres demoníacos, que escravizam os seres humanos em seu serviço, e passaram a ser apenas corpos do universo, cuja influência sobre a nossa vida é apenas de ordem natural e não conseqüência de sua maldade;
· Enfermidades e suas curas tem suas causas naturais e não são devidas à ação de demônios ou à sua expulsão;
· A escatologia mítica está eliminada, fundamentalmente pelo simples fato de que a parúsia de Cristo não ocorreu muito em breve, como o NT aguardava. Ao contrário, a história da mundial continuou e continuará. O mundo poderá vir ao fim como uma catástrofe natural e não como um acontecimento mítico;
· O ser humano se compreende não dicotomizada (corpo e alma), nem tricotomizado (corpo, alma e espírito), mas como um ser unitário, que atribui a si mesmo seu sentir, seu pensar e seu querer. Ele atribui a si mesmo a unidade interior de seus estados e de suas ações;
· O ser humano que se compreende só biologicamente não admite que algo sobrenatural, como poderes divinos ou demoníacos podem penetrar na configuração fechada das forças naturais e nele atuar, ao ser humano que se presume tal intervenção, designa-se esquizofrênico;
· Também não entende como uma refeição (Ceia do Senhor) possa transmitir força espiritual ou a participação indigna nesta refeição possa acarretar doença física e morte;
· O naturalista e o idealista não podem entender a morte como castigo pelo pecado; para eles trata-se de um processo natural e simples. O ser humano está à preso a natureza; é gerado, cresce e morre. Neste caso a morte não é castigo por seu pecado, pois de antemão, já antes de ser culpado, estava sujeito à morte. A idéia de pecado hereditário como uma enfermidade que se alastra com força natural, devido a culpa de seu ancestral, é um conceito submoral e impossível, pois só conhece a culpa como ação responsável;
· A doutrina da satisfação vicária através da morte de Cristo, também não é inteligível para o homem moderno, por se tratar de um conceito mítico, algumas questões são aqui levantadas:
1. Que mitologia primitiva é essa que pretende que um ser divino feito ser humano expie através de seu sangue os pecados dos seres humanos!
2. Se a morte de Cristo efetuou uma transação jurídica entre Deus e o ser humano, então o pecado só poderia ser entendido juridicamente como infração exterior do mandamento, e os critérios éticos estariam excluídos!
3. Se Cristo, que sofreu a morte, era o Filho de Deus, o ser preexistente, que significava para ele o assumir a morte? Quem já sabe que vai ressuscitar ao terceiro dia, a esse o morrer evidentemente não afeta muito!
4. A idéia de uma ressurreição corpórea nada diz par o homem atual, visto que a morte para ele é um acontecimento natural, se Deus cria vida a partir de tal expediente, essa mensagem é praticamente nula para nossa existência. A ação de Deus só tem sentido num acontecimento que intervenha na realidade existencial autêntica, transformando-a aqui e agora.


03). NOSSA TAREFA


3.1. Clareza e sinceridade absoluta – O pregador deve a sua comunidade, bem como àqueles a quem deseja atrair para a sua comunidade, clareza e sinceridade absolutas. A pregação não deve deixar os ouvintes em dúvida quanto ao que propriamente deve ser verdadeiro ou não. Se quisermos manter a validade da proclamação do NT, só nos resta o caminho da demitologização.


3.2. A essência do mito – O sentido do mito não é proporcionar uma concepção objetiva do universo, por isso o mito não deve ser interpretado cosmologicamente, mas antropologicamente – melhor: de modo existencialista. O mito fala do poder ou dos poderes que o ser humano supõe experimentar como fundamento e limite de seu mundo, seu próprio agir e seu sofrer. Mas ao falar desses poderes ele os inclui o círculo do mundo conhecido, forças, coisas, afetos, motivos e possibilidades. Assim do não-mundano fala mundanamente, dos deuses humanamente. Por isso a mitologia do NT não deve ser explicada objetivamente, mas quanto à compreensão da existência que se expressa nestas concepções. Devemos buscar a verdade do mito, não a historicidade deste mito.


sábado, 10 de julho de 2010

POR QUE DEUS NOS ABANDONA?

Há cerca de quatro anos minha irmã perdeu seu filho adolescente num acidente de carro, quando cheguei perto dela, ela me perguntou: Por que Deus fez isso comigo? Eu a abracei e respondi: Não sei.
Anos atrás eu tinha ou achava que tinha respostas para todas as perguntas. Tudo era simples, era só abrir a Bíblia ou citar um versículo, e pronto.
Hoje não tenho tantas certezas, mas dúvidas, perguntas e algo mais. Estas dúvidas e perguntas me são benéficas. Com elas leio as Palavras de Cristo, e procuro respostas nela.
Uma das minhas dúvidas é: Por Deus no abandona?
Todos os crentes são unânimes em responder: Deus jamais nos abandona!
Não é isso que ouvimos de Cristo em suas últimas palavras da cruz. Mateus escreveu: “Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (27.45,46)
Toda religião é um esforço de auto-salvação e fuga do sofrimento. O ser humano busca confiar, acreditar, ter fé em algo [nós chamamos este “algo” de Deus], procura escutar, obedecer, submeter-se e sujeitar a esta divindade, com o objetivo de ser salvo, ser resgatado do perigo ou destruição, ser poupado de sofrer, ser preservado do perigo e da destruição. E inevitavelmente, este ‘Filho de Deus’, na pregação dos religiosos, jamais poderá ou será abandonado por seu Deus. Afinal, ele confiou em Deus, declarou ser filho de Deus, e Deus se ver na obrigação de salvá-lo e poupá-lo do sofrimento. (Mt 27.43)
Quando o filho de Deus se vê submetido ao calvário, em meio a escuridão, o desprezo e o escárnio de todos, surge a expectativa dos ‘irmãos’ e do próprio ‘filho’ se Deus lhe quer bem. E a prova deste comprazer de Deus pelo seu ‘filho’ é, se ele o livrar do sofrimento. “Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus.”
Essa foi a manifestação dos religiosos, e esta também foi a espera indignada daquele ladrão. Porque na mentalidade dos líderes judeus e daquele condenado, aquele que havia sido declarado o Filho de Deus não poderia deixar de resgatar a si mesmo da destruição. Suas concepções eram que o “Filho de Deus” teria que ser:
· Resgatado do perigo e da destruição;
· Poupado do sofrimento;
· Preservado dos males da vida, dentre eles a morte.
O que se prega entre os evangélicos não é nada diferente. Alias esta tem sido o tom da batuta dos regentes da orquestra dos novos evangélicos. “Pare de sofrer!” “Desça da cruz e creremos” e saberemos que tu és um dos nossos.
Eu estou tentado a dizer que Deus pode sim abandonar seu Filho em meio as trevas, dores e gemidos, apesar de seu clamor em “alta voz” (Mt 27.45,46).
Antes de Jesus sentir-se abandonado houve 3 horas de trevas – O filho de Deus passa por constantes trevas, escuridão que muitas das vezes deixa-o sem direção.
Neste ambiente de escuridão, dor e sofrimento nós sentimos impelidos a orar como Jesus e fazer a pergunta: “Por que me abandonaste?”
A palavra “desamparaste” [egkataleipo], é muito forte e significa:

1) abandonar, desertar;
2) deixar em grandes dificuldades, deixar abandonado;
3) totalmente abandonado, completamente desamparado;

Essa foi a sensação que Cristo teve neste momento. Deus o havia abandonado, deixado-o em grande dificuldade, completamente abandonado. Todo filho de Deus passa pela experiência do abandono.
O Deus revelado por Cristo não protege os homens do perigo no “seio materno”, pelo contrário, Ele é capaz de abandonar seu Filho.
Como podemos ler e pregar um Evangelho deste, num ambiente triunfalista, onde o ser humano faz de tudo para evitar o sofrimento, a dor, a perda, o abandono?
O Evangelho é uma resposta a crise do seu humano. É uma resposta a dor, a tribulação, a agonia, a perda, a morte. E esta resposta não é: “Pare de sofrer”! Mas “como” sofrer!
Sim. Como sofrer sem deixar de ser Filho de Deus. Como sentir-se abandonado “sem Deus” no mundo, entretanto ter a certeza de que está na “presença” de Deus. Ter a certeza que ainda que tu me “abandonaste”, ainda sou seu Filho, ainda está se cumprindo em mim a “vontade daquele que me enviou” (Jo 4.35).
Salvação nem sempre é proteção do mal, das dores, do sofrimento humano. Salvação tem o suplício da cruz, diferente daqueles que pregam o Evangelho “da sombra e água fresca”.
Aprendemos com o abandono de Cristo que a ação de Deus nem sempre é para nos tirar do sofrimento, mas para nos fortalecer na hora da dor [às vezes, ele deixa o filho desfalecer também].
Deus permite sim que seu filho seja abandonado por um certo tempo de sua vida. Deus permite sim que seu filho desça a cova, um lugar tipo “fim de linha”, para trazer um amanhecer ressuscitador, e fazer com que os mesmos que te viram descer a cova possam dizer “Ele ressuscitou” (Mt 28.6,7)
O calvário, a escuridão, o abandono, o túmulo é uma realidade na vida do filho de Deus, mas de igual modo é real a ressurreição, a vitória e o acolhimento nos braços do Pai.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O ESCANDÂLO DE ASAFE

ASAFE – O MUNDO É DOS MAIS ESPERTOS!

“Porque não há apertos na sua morte, mas firme está a sua força. Não se acham em trabalhos como outros homens, nem são afligidos como outros homens. Por isso a soberba os cerca como um colar; vestem-se de violência como de adorno. Os olhos deles estão inchados de gordura; eles têm mais do que o coração podia desejar. São corrompidos e tratam maliciosamente de opressão; falam arrogantemente. Põem as suas bocas contra os céus, e as suas línguas andam pela terra. Por isso o povo dele volta aqui, e águas de copo cheio se lhes espremem. E eles dizem: Como o sabe Deus? Há conhecimento no Altíssimo? Eis que estes são ímpios, e prosperam no mundo; aumentam em riquezas.” (Sl 73.4-12)

ASAFE – LOMBO DE JUSTO É PRA AÇOITE!

“Na verdade que em vão tenho purificado o meu coração; e lavei as minhas mãos na inocência. Pois todo o dia tenho sido afligido, e castigado cada manhã. Se eu dissesse: Falarei assim; eis que ofenderia a geração de teus filhos. Quando pensava em entender isto, foi para mim muito doloroso... Assim o meu coração se azedou, e sinto picadas nos meus rins. Assim me embruteci, e nada sabia; fiquei como um animal perante ti.
(Sl 73.13-16, 21,22)

ASAFE – ENTENDER O FIM DOS ÍMPIOS ANTES DO FIM

“Até que entrei no santuário de Deus; então entendi eu o fim deles. Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição. Como caem na desolação, quase num momento! Ficam totalmente consumidos de terrores. Como um sonho, quando se acorda, assim, ó Senhor, quando acordares, desprezarás a aparência deles.” (Sl 73.17-20)

ASAFE – DEUS POR DEUS E NADA MAIS ALÉM DE DEUS

“Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem; mas Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre. Todavia estou de contínuo contigo; tu me sustentaste pela minha mão direita. Mas para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no Senhor DEUS, para anunciar todas as tuas obras. Guiar-me-ás com o teu conselho, e depois me receberás na glória.”
(Sl 73. 25, 23, 28,24)
Assim como Asafe também estou escandalizado pela prosperidade dos ímpios e pelo sofrimento dos justos. Mas também consigo ler em Asafe que relacionamento com Deus está além da prosperidade terrena. A paz da amizade divina que nunca decepciona é a proposta de Asafe. Para alguns isso é tudo, para outros é escândalo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

DEUS – UMA “HIPÓTESE” DESNECESSÁRIA

Quando Laplace encontrou a explicação para os pequenos desvios de Saturno e Júpiter, foi apresentá-la a Napoleão, o imperador lhe perguntou que lugar ocupava Deus em seu sistema. E o cientista respondeu orgulhosamente: “Senhor, não senti falta dessa hipótese”.
Um recente estudo sociológico nos permitiu saber que, as romarias a santuários que se especializavam em doenças hoje controláveis pela medicina viram diminuir o número de seus devotos, enquanto aqueles cujas enfermidades ainda não foram controladas pela medicina, continuam atraindo verdadeiras multidões de romeiros.
A religião primitiva nos dá conta que, para suprir suas carências, o homem sempre precisou lançar mão de um deus grande.
Todas as vezes que esses homens não entendem ou não conseguem fazer algo, eles levantam os olhos para o seu deus.
Freud diz que aos deuses foram atribuídas uma tríplice função para com o homem:
1. Espantar os terrores da natureza;
2. Conciliar o homem com a crueldade do destino;
3. Compensá-lo pelas dores e privações que a vida civilizada em comum lhe impõe.
O homem sempre usou Deus como um tapa-buraco de seu conhecimento imperfeito. Essa idéia de Deus está exatamente naquilo que ignoramos e não naquilo que conhecemos. Deus existe aonde o homem não é. Deus é grande aonde o homem é pequeno. Deus é tudo aonde o homem nada é.
Este conceito de Deus tem enfurecido os humanistas e com razão. Pois esse não é o conceito de Deus revelado em Cristo. O Deus revelado por Cristo não protege os homens do perigo no “seio materno”, pelo contrário Ele é capaz de abandonar seu Filho.
Não podemos continuar pregando o Evangelho com sinceridade sem reconhecer que temos que viver neste mundo “sem” Deus, porém “diante” de Deus. Deus em algum momento de nossa vida nos deixará ir ao “calvário” e lá nos abandonará, nos deixará sozinho, mesmo diante de nossos rogos incessantes. Ele simplesmente não veio. Ele simplesmente não está.
Deus, essa “hipótese” poderosa que intervêem sempre a favor de seus filhos, fazendo sempre o que eles desejam e dando a eles sempre o melhor desta terra, é desnecessária para aqueles que teve acesso à maturidade e reconheceu a sua real situação perante Deus – sem Deus no mundo, porém diante de Deus na mente.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

OS MILAGRES DE ESCULÁPIO NA VERSÃO DOS ‘NOVOS’ EVANGÉLICOS

Na terceira inscrição do templo dedicado a Esculápio, em Epidauro, conta-se que Istmonike pediu para ficar grávida e o pedido foi atendido. Como não tivesse ainda dado a luz depois de três anos de gravidez, voltou ao santuário, e Esculápio explicou que ela só havia pedido uma gravidez, não um parto. Chega ser engraçado este milagre operado por Esculápio, mais engraçado ainda é a resposta a cliente que foi enganada. Este Esculápio é mesmo um malandro (rsrsrs).
Quantos templos dedicado a Esculápio temos hoje? Centenas, se não milhares. E por que? Talvez existam muitos homens dispostos a se deixar levar pela malandragem de Esculápio ainda hoje. Seria hilariante, senão fosse trágico. Mas esta é a real situação em muitos templos “esculapistas” e golpistas. Esculápio é capaz de fazer seu fiel voltar ao templo e exigir uma explicação. E ele certamente terá uma resposta pronto para continuar enganando seu seguidor. Quem mandou pedir uma gravidez e não um parto? Azar o dela. Não soube orar direito, penou. Na tradução livre de hoje seria, não teve fé não alcançou a bênção completa.
O Esculápio não era só um malandro enganador, mais também um deus que visava o lucro, seus milagres tinham além da diversão o poder de arrecadar ‘fundos’, lucros. Na quarta inscrição desse templo está escrito como o próprio Esculápio fixou os honorários que devia receber por satisfazer os desejos de seus “clientes”.
Parece que nossas ruas estão cheias destes templos e estas inscrições se repetem nas mais criativas inscrições. Agora Esculápio tem, não uma tabuleta de inscrição, mas a mídia toda à seu serviço. Esculápio fixou honorários, atualmente a ‘taxa’ é a mesma se não mais alta, porém a nomenclatura é mais criativa, mais afinada com a ‘espiritualidade’ dos novos clientes.
Mas Esculápio não para por aí. Ele também opera milagres tipo ‘punitivo’. O cliente que porventura não pagasse diligentemente o serviço era punido. Mas aqueles clientes que desconfiasse dos milagres de Esculápio, (tipo eu estou fazendo agora), também eram punido.
A versão evangélica de Esculápio hoje, reza na mesma cartilha desde velho e conhecido deus. Se você receber a bênção pela metade é porque não soube pedir, não falou a palavra certa, não determinou para que aquilo acontecesse. Teve fé para “engravidar”, mas não teve fé para “parir”. E tem tanta gente ‘grávida pela fé’, com 2, 3, 5, 10, 20 anos e ainda não pariram. Vão lá e pergunte para Esculápio, ele responde.
Ainda mais, esta versão de Esculápio, tem um honorário caríssimo. É caro demais o serviço religioso prestado pela sua cúpula. E a cada dia Esculápio inventa novos honorários, em nome das novas revelações dos textos bíblicos (preferencialmente o AT), que o povo não lê e se lê não entende nada mesmo, ficando fácil cobrar e instituir os honorários esculapistas.
E a punição? Terrível. Não se pode deixar de pagar, nem desconfiar que Esculápio está nos enganando ou cobrando muito caro pela satisfação de nossos desejos. Esculápio é muito sério e responsável com seus ‘negócios’. O cliente não pagou, ou não creu, ou ficou escrevendo coisas contra ele no blog. Cuidado, isso pode ser perigoso.
Que me perdoe Esculápio e seus discípulos, são todos um bando de... (melhor não completar, vai que tem alguém dele lendo).

quinta-feira, 3 de junho de 2010

“FAÇA-SE A TUA VONTADE” – FÉ NA VONTADE DE DEUS OU DESCULPA DOS FRACASSADOS?

É comum ouvirmos ou falarmos “se for da vontade de Deus”. Geralmente quando temos algum plano em mente, uma viagem ou uma mudança programada, ou mesmo na hora do vestibular, ou estamos na expectativa de um determinado emprego, ou ainda estamos na iminência de sermos promovidos em nosso trabalho, sempre vem àquela frase religiosamente rezada: “se for da vontade de Deus”.
Estava pensando nesta fala tão usual no meio cristão e tentando entender o que se passa na cabeça ou quem sabe no coração daqueles que a repetem tão credulamente. Estaria eles se lançando inteiramente no grande Decreto de Deus, que tudo cria, governa, e sustenta com seu poder providencial, a ponto de nem uma “folha sequer cair sem sua permissão” ou estão usando o termo bíblico para justificar seus fracassos na vida?
Acredito que na maioria dos casos usamos “foi da vontade de Deus” ou, “não foi da vontade de Deus” para justificarmos biblicamente nosso sucesso ou nosso fracasso. Da mesma maneira aquele santo sacro ditado “entreguei nas mãos de Deus” me soa na maioria das vezes como “dane-se”, “desisto”!
E pra enlouquecer mais ainda vêem aqueles novos pregadores que confirmam o sucesso com a demonstração pública e terrena da fidelidade a Deus [a vontade de Deus se cumpriu], ou atestam o fracasso como obra do “inimigo” [a vontade de Deus não se cumpriu].
Desde que o homem é homem e Deus é Deus o ser humano vive entre o sucesso e o fracasso. As dores e perdas da vida foram justificados pelo mito da Queda. O sucesso foi justificado pelo mito do sacrifício. Foi o medo, diz George Santayana, que primeiro criou os deuses. A fé no sobrenatural é uma aposta desesperada feito pelo homem na mais baixa maré de sua fortuna. O primeiro sentimento com que o homem confronta na realidade é certa animosidade, que se torna cruel para com os fracos e temor e bajulação diante dos poderosos. Basta observar os motivos que a religião atribui a divindade. Receber o melhor bocado, ser lembrado, ser elogiado, ser obedecido cega e pontualmente – tem sido considerados pontos de honra com os deuses, em troca dos quais eles concederiam favores e dariam castigos na mais exorbitante das escalas.
No Cristo, e por sua vontade humana, a Vontade do Pai foi realizada completa e perfeitamente e uma vez por todas. Jesus disse ao entrar neste mundo: "Eis-me aqui, eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade" (Hb 10.7). Só Jesus pode dizer: "Faço sempre o que lhe agrada" (Jo 8.29). Na oração de sua agonia, ele consente totalmente com esta vontade: "Não a minha vontade mas a tua seja feita!" (Lc 22.42). É por isso que Jesus "se entregou a si mesmo por nossos pecados, segundo a vontade de Deus" (Gl 1.4). "Graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo" (HB 10.10).
Jesus, "embora fosse Filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo sofrimento" (Hb 5.8). Com maior razão, nós, criaturas e pecadores, que nos tornamos nele filhos adotivos, pedimos ao nosso Pai que una nossa vontade à de seu Filho para realizar sua Vontade, seu plano de salvação para a vida do mundo. Somos radicalmente incapazes de fazê-lo; mas, unidos a Jesus e com a força de seu Espírito Santo, podemos entregar-lhe nossa vontade e decidir-nos a escolher o que seu Filho sempre escolheu: fazer o que agrada ao Pai.
Assim entedemos que viver na vontade de Deus está acima de nossa “vidinha mundana”, tipo “ir a cidade”, “comprar alimentos”, preservar nossos preconceitos culturais, raciais e religiosos (Jo 4.8,27,30-34), é mais que um costume, é uma entrega, é um estilo de vida.
Assim não é justificação nem para ter, nem para não ter. É uma declaração de Ser.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O PODER DE ATAR E DESATAR – A INOVAÇÃO ROMANISTA ENTRE OS NOVOS EVANGÉLICOS

Eu tenho ouvido de alguns líderes que não é suficiente que o pecador esteja arrependido, em seu coração, e verdadeiramente se aparte do pecado e vá para Deus; tem de confessar seus pecados aos seus líderes ou mentores espirituais.
Texto tais como João 20.23; Tiago 5.16; Mateus 16.19, são citados para provar tal prática. A doutrina do atar e desatar ou redimir e reter o perdão historicamente está dentro do catolicismo romano. Como o novo evangélico vem suscitando várias práticas pagãs que foram cristianizadas pelo catolicismo romano, não são de se admirar que esta seja uma delas.
O catolicismo romano mantém que o pecador está obrigado a revelar suas ofensas aos pastores da sua Igreja, ou, melhor, a um delegado e autorizado pela Igreja com esse propósito; a manifestar diante dele todos os pecados secretos de sua alma, a expor todas as feridas, e em virtude da autoridade dada por nosso Salvador a ele, a receber de suas mãos, sobre a terra, a sentença do perdão de Deus, que é ratificada no céu. Cristo também deu a Igreja o poder de reter os pecados, ou seja, de reter o perdão ou de retardá-lo até um tempo mais oportuno.
Este é o escopo da doutrina romanista sobre o poder de atar e desatar. É basicamente isso que se propõem os novos evangélicos com esta doutrina.
Quem nunca presenciou alguns pecadores confessando seus pecados à “diretoria” ou pedindo perdão em público?
A nova leva de líderes e mentores espirituais está reivindicando esse novo poder sobre seus fiéis. Eles também assumem a hermenêutica romana quanto ensina a necessidade da confissão aos homens, ou a igreja, e quando mentem ao dizerem que a falta desta confissão retém o perdão de Deus sobre o penitente e oprimem ao dizerem que tal falta abre “brechas” a satanás para agirem sobre as suas vidas.
No templo dos novos evangélicos não tem [ainda] o confessionário, mas o que se faz no confessionário romanista, se faz nos gabinetes pastorais, ou em lugares de reuniões especialmente programada para tal fim.
O que observamos nestes textos é que todo o poder que se concede aos apóstolos (Jo 20.23) é concedido em Mateus 18.18 a todos os cristãos, ou pelo menos, a toda a agremiação de cristãos que constitua uma igreja (v. 15-18). Portanto, esse poder de atar e desatar, qualquer que fosse seu significado, não foi dado exclusivamente aos apóstolos e os seus sucessores, mas também a igreja.
A segunda coisa que se observa nestas passagens é que o poder da Igreja ou dos pastores em atar e desatar, ou remitir ou reter os pecados era simplesmente declarativo. Os apóstolos declaravam as condições para a salvação e a regra de vida prescrita no evangelho e anunciavam a promessa de Deus de que sob tais condições ele perdoaria os pecados aos homens.
Portanto, uma criança pode redimir os pecados com tanta eficácia como o papa, o bispo, os pastores, os “apóstolos”, a diretoria, o conselho, ou a Igreja; porque nem uma nem ou outro pode fazer outra coisa senão declarar as condições do perdão.
Nenhuma pessoa tem mais poder que outra para perdoar pecados. O perdão dos pecados é prerrogativa exclusiva de Deus.