quarta-feira, 27 de julho de 2011

VONTADE E LIBERDADE EM SPINOZA - NÃO EXISTE ESCOLHA SOMENTE DESEJO

Spinoza nega que haja "faculdades" na mente, ou entidades tais como intelecto ou vontade, muito menos imaginação ou memória. A mente consiste das próprias idéias em seu processo e associação. Intelecto é meramente um termo para uma série de idéias; e vontade um termo para uma série de ações ou volições. A vontade é primeiramente pensamento de um curso de ações a ser seguido e, quando não há fatores contrários, a ação em questão inevitavelmente se segue. A ilusão de uma determinada escolha surge da ignorância do indivíduo das causas precedentes do pensamento e da ação. Assim, "vontade e intelecto são uma só e a mesma coisa"; pois uma volição é apenas uma idéia que, pela riqueza de associações (ou talvez pela ausência de idéias rivais), permaneceu tempo suficiente no consciente para passar à ação. Cada idéia transforma-se em ação a menos que seja sustada na transição por uma idéia diferente; a idéia é, ela própria, o primeiro estágio de um processo orgânico unificado do qual a ação externa é o desfecho.

O que é freqüentemente chamado vontade, como força compulsiva, deveria ser chamado desejo: é um apetite ou instinto do qual temos consciência. "Os homens pensam que são livres, porque têm consciência de suas volições e desejos, mas ignoram as causas pelas quais são levados a querer ou a desejar." Cada instinto é um artifício desenvolvido pela natureza para preservar o indivíduo. Por trás dos instintos está o esforço variado e vago de auto-observação (conatus sese preservandi). Spinoza vê isso em todas as atividades humanas e mesmo infra-humanas, como sua motivação básica. "Todas as coisas, quanto delas depende, esforçam-se em persistir em suas próprias naturezas; e o esforço com o qual uma coisa procura persistir em seu próprio ser, nada mais é do que a verdadeira essência daquela coisa." O prazer e a dor são a satisfação ou a repressão de um instinto; não são as causas de nossos desejos, mas seus resultados; não desejamos as coisas porque elas nos dão prazer; mas elas nos dão prazer porque as desejamos; e nós as desejamos porque temos que desejá-las. Conseqüentemente não existe vontade livre; as necessidades da sobrevivência determinam o instinto, o instinto determina o desejo e o desejo determina o pensamento (a idéia de vontade) e a ação. "As decisões da mente são apenas desejos que variam conforme as disposições". "Na mente não existe uma vontade absoluta ou livre; a mente é levada a querer isto ou aquilo por uma causa, que por sua vez, é determinada por outra causa, e esta por outra e assim por diante, até o infinito".



segunda-feira, 4 de julho de 2011

O EVANGELHO DA PÓS-MODERNIDADE

Que tipo de evangelho tem sido proferido pela chamada “igreja evangélica” atualmente? Destaco aqui alguns pontos que certamente você já ouviu.

1. É o evangelho que coloca a felicidade ao alcance da mão, ali na prateleira, na loja da esquina, publicitada em todo tipo de mercadoria.

2. É o evangelho da alma que se dilacera, seja pela frustração de não dispor de meios para alcançá-la; seja por angariar os produtos do fascinante mundo do consumismo religioso e descobrir que, ainda assim, o espírito não se sacia.

3. É o evangelho que se repete incessantemente que todos temos a obrigação de ser feliz, de vencer, de nos destacarmos do comum dos mortais. Sobre esses recai o sentimento de culpa por seu fracasso.

4. É o evangelho que anuncia uma esperança, que apregoam o caráter miraculoso da fé. Jesus é a solução de todos os problemas. Inútil procurá-la nos sindicatos, nos partidos, na mobilização da sociedade.

5. É o evangelho que engolido pelo vácuo pós-moderno, tende a reduzir-se à esfera do privado; olvida sua função social; ampara-se no mágico; desencanta-se na auto-ajuda imediata.

6. É o evangelho que é ocupado pelo oráculo poderoso da mídia; os dogmas inquestionáveis do mercado da fé; o amplo leque de propostas esotéricas.

7. É o evangelho adaptado às necessidades psicossociais de evasão, da falta de sentido, de fuga da realidade conflitiva.

8. É o evangelho impregnado de orientalismo, de tradições religiosas egocêntricas, ou seja, centradas no eu, e não no outro, capazes de livrar o indivíduo da conflitividade e das responsabilidades sociais.

9. É o evangelho que, manipula o sagrado, submetendo-o aos caprichos humanos. O sobrenatural se curva às necessidades naturais.

10. É o evangelho das técnicas psicoespirituais, de onde derivam a prosperidade, a cura, o alívio, o encontro com o transcendente.

11. É o evangelho que ensina que as dificuldades pessoais e sociais devem ser enfrentada pela auto-ajuda, a meditação e a prática de ritos.

12. É o evangelho onde o sagrado passa ser ferramenta de poder, para controle de corações e mentes, e também do espaço político. O Bem identifica-se com a minha crença religiosa.

13. É o evangelho que cria uma Igreja, mais voltada à sua dilatação patrimonial que ao aprimoramento do processo civilizatório, evita criticar o poder político para, assim, obter dele benefícios: concessão de rádio e TV etc.

14. É o evangelho que ajusta a sua mensagem a cada grupo social que se pretende alcançar.

A este evangelho Paulo já pronunciou a sentença divina: “Seja anátema!”

sexta-feira, 1 de julho de 2011

SOBRE MÉTODO E MODELO DE CRESCIMENTO

Quando estava na ativa na Convenção Batista Nacional do Estado de Rondônia, eu fui relator de uma comissão que tinha por finalidade analisar os ‘novos’ métodos que as igrejas estavam começando a implantar em suas atividades. Hoje, aquilo que estava iniciando já está ‘consolidado’ em muitas igrejas.

O método nada é além de um meio circunstancial e momentâneo. Esta foi a conclusão do parecer da dita comissão que fiz parte, tanto é, que não elegemos em nosso parecer nenhum método, nenhum modelo. Ficou restrito a escolha das igrejas locais, levando em consideração o respeito às doutrinas, princípios e práticas da Convenção.

Mas hoje, fico preocupado pelo fato de perceber que existe um ‘foco’, uma ‘busca’, uma ‘perseguição’ ao método. De um lado estão aqueles que advogam como melhor, como a última revelação, como a última ‘novidade’ em crescimento e sucesso de igreja. De outro aqueles que não querem nenhum método, nenhum trabalho, nenhuma atividade.

Nesta ‘briga’ sobre se devemos ou não usar o método, eu trago um humilde parecer sobre método e crescimento de igreja.

1). Assim como na história da Igreja em dois milênios os método vieram e passaram, os métodos atualmente utilizado pela igreja serão sepultados.

2). Todo método em qualquer organização se desgasta. Os métodos na igreja também se desgastarão.

3). Quando o método vira um fim-em-si-mesmo é porque a Palavra já virou meio de vida, no meio das coisas.

4). A luz do NT os métodos eram apenas meios circunstanciais e momentâneos, mudava conforme a necessidade, e não conforme a década e a moda.

5). A fixação em métodos e a fixação dos métodos revelam a falta de conteúdo da Palavra e a cobiça do crescimento. É megalomania vazia. No Brasil—como na maior parte do mundo—, o crescimento da “igreja” é apenas um concurso para ver quem tem a maior igreja. Coisa de menino.

6). Provar a eficácia do método ou a aprovação de Deus apenas pelo crescimento numérico não é confiável nem aconselhável. Se o critério for esse, então VIVA o Islã!

7). O crescimento numérico também é validado pelas Escrituras, mas não à custa da Palavra de Deus. O que temos visto em muitos destes segmentos modelados e enfatizado pela Teologia do Crescimento da Igreja é o sacrifício da Palavra, (e temos tantas provas), em prol do crescimento.

8). A criação de pacotes, sacraliza os meios e corrompe a Palavra, que fica subordinada aos meios.

9). Os atuais vendedores de métodos são como os vendedores de aparelhos hospitalares que conseguem fazer o paciente se sentir bem por estar ligado aos aparelhos, mas nunca recebe alta. Sempre estão surgindo uma máquina nova e saindo uma máquina velha.

10). O que assistimos hoje é uma “igreja” no CTI e que está feliz com a modernidade das máquinas e tubos que a mantêm artificialmente viva.