sexta-feira, 25 de novembro de 2011

MENTORIA ESPIRITUAL OU A CELEBRAÇÃO DA MENORIDADE?

Mentoria espiritual é a última palavra no movimento evangélico na Igreja Brasileira. Nunca na história recente se falou tanto do assunto. Seminários, congressos, palestras, livros e mais livros tem sido escrito para propagar esta idéia.

Embriagados com este néctar, apostólos, bispos, pastores e outros guias espirituais tem arrebanhado milhares de pessoas e colocado-os debaixo de “suas asas” de mentoria e cobertura espiritual. A questão é como estão fazendo e o que estão fazendo com esta badalada mentoria.

Todo ser pessoal tem “consciência e direção própria”, esta inclusive é a definição de espírito pessoal do teológo batista A. B.Langston. Existe uma fase de menoridade na vida de qualquer indivíduo tanto no âmbito jurídico quanto no âmbito espiritual. Neste período de menoridade precisa ter responsáveis por ele, alguém que o esclareça, que o represente e que o ensine a desenvolver seu entendimento. Na ordem social os primeiros mentores são os pais, na ordem espiritual são os líderes espirituais (dê o nome que mais lhe apraz a est líder).

No entanto espera-se que todo indivíduo chegue a sua maioridade. Mas é tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta etc., então não preciso esforçar-me. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis.

A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha, continuem no entanto de bom grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam por que é tão fácil que os outros se constituam em mentores deles. Neste campo da preguiça, da covardia, veceja a mentoria espiritual na igreja brasileira.

A imensa maioria dos crentes considera a passagem à maioridade espiritual, aquele esclarecimento por si só mediante o exame das Escrituras, difícil e além do mais perigosa, porque seus mentores de bom grado tomaram a seu cargo a supervisão dela. Depois de terem primeiramente embrutecido seu gado doméstico e preservado cuidadosamente estas tranquilas criaturas a fim de não ousarem dar um passo fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encerraram, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça se tentarem andar sozinhas.

É difícil portanto para um crente que segue esta linha de pensamento desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque seus líderes nunca o deixaram fazer a tentativa de assim proceder.

Preceitos, fórmulas, ritos e programas espirituais tornam-se grilhões de uma perpétua menoridade. Esta menoridade, a falta de esclarecimento, a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo está sendo celebrada e sacrificada no altar da mentoria espiritual.

Libertai-vos!

Tende coragem de fazer uso do seu próprio entendimento!

Nas palavras do Maior Mentor: “Levanta-te e anda”!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O NEOPAGANISMO NO MEIO EVANGÉLICO – CRENDICES ENTRE NÓS

O Iluminismo pensanva que, caso houvesse qualquer intervenção divina no mundo dos homens, tal intervenção seria “filtrada” pela alma humana que, então, ao lembrar-se dos exemplos das entidades divinas (por exemplo, a vida de Jesus ou dos santos etc.), inspiraria atos mentais, de caráter intelectual e moral. Mas não foi assim que as coisas evoluíram em nossos tempos recentes. No movimento de proliferação de igrejas dos anos noventa, e que continua agora mais forte que nunca, ninguém é “tocado” pela inspiração dessa maneira. Na competição para arrecadar almas pagantes ou almas que pela presença conferem poder ao pastor (que ele pode reverter em poder político e financeiro), as igrejas perceberam que precisam criar um sistema facilitador em relação às proibições. Deixaram de falar da ética do Reino em relação ao Indíviduo como Imagem de Deus, ao relacionamento com o próximo e a solidariedade com o oprimido e passaram a enumerar regras que vão desde o lugar onde um ‘crente’ deve ir, até o que este ‘fiel’ deve ouvir ou pronunciar.


Criaram o efeito mágico das palavras. Principalmente as palavras de ‘maldição’, as únicas que realmente tem poder sobre a vida deles, pois vivem de proibições de palavras ‘fortes’ tais como: ‘pobreza’, ‘miséria’, ‘coitado’, ‘pobre’, ‘morte’, etc. A estas palavras eles refutam desde o “tá amarrado”, eu “rejeito”, até o tradicional toque na madeira, ou ‘peguei no verde’ (rsrsr).

De igual modo não é tão forte as palavras de ‘bênção’, aja visto que falar de ‘riqueza’, ‘dinheiro’, ‘saúde’ (ainda que na hora do espirro), “vais ganhar na mega sena da virada”, (os crentes dizem não apostar, kkk), não funcionam, mesmo que o fiel diga com toda ‘fé’, ‘eu recebo’.

Os novos crentes também reconstruíram as rotas sagradas do turismo espiritual. A ida a Israel não como visitação a um lugar histórico e emblemático tem crescido assustadoramente, os crentes vão lá pra tentar “sentir’ alguma “coisa”. E deve sentir mesmo, tais os relatos que de lá temos ouvido. Na maioria das vezes, ‘conversa pra boi, (digo ovelha), dormir’.

De lá trouxeram o famoso shoffar, um instrumento de som horrível e deram a ele um sentido magico, que levam todos ao delírio espiritual. Quem tem um shoffar hoje tem o poder na mão. Eu já vi um sujeito arrancar aplausos, gritos e frenesi da platéia simplesmente com algumas ‘sopradas’ desafinadas.

Sem contar que outros objetos sagrados que povoam os templos e as casas dos fiéis, a um preço altíssimo, movimentam uma cifra milionária no mercado da fé. Já temos representante comercial para tais objetos tirando pedido nas igrejas, fazendo destas sua ‘gorda’ e próspera carteira de clientes. Os pastores (leia-se compradores e vendedores) não perdem as promoções, as novidades, os lançamentos da indústria da fé. E vendem. E como vendem!!!!!!

Essas e outras besteiras de crentes nada mais é que um resto de neopaganismo tipo bárbaro que vem sendo reconstruído e trazido para dentro das igrejas evangélicas. No entanto os crentes não se apercebem que estão fazendo papel de tolo, e isso se deve ao fato do emburrecimento bíblico-teológico que vem tomando conta dos arraiás da crentaida.

É claro que tudo isso é ajudado por outros mecanismos, principalmente o atrativo do “milagre”, da “cura imediata” ou da “salvação” que, enfim, não é a salvação contra o Mal, e sim a salvação financeira ou o desemprego ou a falta de sorte etc. Ou seja, o Mal se traduz em males da cada um, em um sentido moral bem empobrecido. O pastor promete dar ao fiel não um Deus ou um Jesus ou coisa parecida, nos cânones do cristianismo que conhecíamos antes dos anos noventa. Ele promete dar um Mágico, alguém do Além que pode ser chamado, a qualquer momento, para resolver problemas cotidianos. O azar na vida é coisa mostrada como produto de uma entidade denominada “Demônio”. A sorte pode ser restabelecida pela fé, uma fé esvaziada de religiosidade, ou seja, algo que se faz sentir a partir do pronunciamento de palavras do tipo “Sangue de Jesus tem poder”, exatamente como Mandrake poderia dizer “Abracadabra”.