quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

QUANDO DEUS FICA ACIMA DE MEU PEQUENO BEM E DE MEU PEQUENO MAL


A cristandade passou séculos lutando para reconciliar os males da vida com a bondade de Deus. E parece que estamos cada dia mais longe deste intento. Mas o que fazer para compreender nossos pequenos bens e nossos pequenos maus do dia a dia?
O bem e o mal existem porque agimos visando a fins conscientes, supomos que todo o processo tem esses fins em vista; e porque somos humanos, supomos que todos os eventos levam ao homem e são destinados a subservir as necessidades do homem. Mas isso não passa de uma ilusão antropocêntrica.
Bom e mal são relativos a gostos e fins humanos e freqüentemente individuais, e não tem validade alguma para um universo no qual os indivíduos são efêmeros e no qual o Dedo propulsor escreve a história da raça.
O que achamos ridículo, absurdo ou nocivo será porque momentaneamente temos apenas um conhecimento parcial dos acontecimentos e ignoramos, em geral, a ordem e a coerência do Grande Decreto como um todo, e porque queremos que tudo seja arranjado de acordo com os ditames de nossa própria razão. Embora, na verdade, o que a nossa razão considere mau não seja mau no que se refere à ordem e ao Decreto como um todo. Neste entendimento uma coisa pode ser ao mesmo tempo boa, má e indiferente, por exemplo, a música é boa para os melancólicos, má para as carpideiras e indiferente para os mortos.
Quando olhamos a vida por etapas ou fragmentos, então desviamos nossa mente do Propósito Maior e total e nos deparamos com a problemática do bem e do mau, esquecendo-nos da grande lição de Jó de que Deus está acima do nosso pequeno bem e do nosso pequeno mau.
Quando Deus torna soberano sobre o que nossa razão entende por bem ou por mau, então, e só então, passamos a ter forças para esperar e suportar as duas faces da fortuna com o mesmo espírito; lembrando-nos de que todas as coisas são reguladas pelo eterno Decreto de Deus.
Quando entendemos o determinar sábio e soberano de Deus sobre todas as coisas, sabendo que tudo está determinado, não podemos reclamar, embora possa resistir; porque passamos a perceber coisas sob uma espécie de eternidade, e compreendemos que os nossos infortúnios não são acasos no esquema total; mas sim, que eles encontram certas justificativas na eterna seqüência e estrutura do mundo.
Aqueles cujo Deus está acima destes bens e maus voam dos intermitentes prazeres da paixão para a alta serenidade da contemplação, que vê todos os acontecimentos como parte de um Todo eterno; aprende a sorrir diante do inevitável e quer consiga seu reconhecimento agora ou daqui a mil anos fica contente. Aprende a lição de que Deus não é uma personalidade caprichosa absorvida nos assuntos privados de seus devotos, mas a invariável ordem de sustentação do universo, onde nem uma folha cai sem a sua devida permissão.

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