segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

DEUS SE ENCONTRA NO PROFANO

O ser humano vive em constante tentação: procurar Deus à margem da vida.

A divisão da realidade em dois âmbitos, o sagrado e o profano, tornou possível esta tentação. Há no mundo lugares, pessoas, tempos e templos sagrados, onde o homem ‘tenta’ encontrar com Deus. Os demais lugares e tempos são profanos e neles o homem só encontra com o homem.

Com muita freqüência os religiosos vão ao templo para levar ao “deus” todo tipo de oferenda para manter “deus” fora da realidade de vida dos seus devotos.

Os profetas do AT condenaram essa separação entre o templo e a vida (Is 1.11-18; Am 5.21,24), mas a verdadeira revolução veio com Cristo, ele fez desaparecer a raiz da tentação ele fez cair a parede entre o sagrado e o profano.

Sagrado e profano não são fragmentos excludentes do tempo e do espaço, mas tudo é profano e, ao mesmo tempo, tudo é sagrado: profano para quem vê as aparências externas, e sagrado para quem penetra em sua profundidade.

Em Cristo desaparecem os templos, os sacrifícios, os sacerdotes e os tempos sagrados. Pelo menos no sentido que tem para qualquer religião (Jo 4.21-24).

Orígenes comentava: “o santuário não precisa ser procurado em um lugar mas nos atos, na vida, nos costumes”.

Entre os primeiros cristãos não existiam templos. Como dizia Justino, “qualquer lugar lhes parecia bom para adorar a Deus.”

O culto dos cristãos exclui a idéia de sacerdote. Existem todo um interesse linquístico no NT para evitar a palavra “IEREUS” = SACERDOTE, ligado ao culto e ao serviço cristão. Quando aparece este termo “iereus” trata-se sempre de um sacerdote pagão ou judeu. Aos pastores da comunidade cristã, empregam-se designações que não sugerem nenhuma relação com o culto, sendo:

• “DOULOS” = servos (Rm 1.1);

• “DIAKONOS” = ministros (2 Co 3.6; 6.4; Cl 1.23,25; Ef 3.7);

• “PROISTAMENOI”= presidentes (Rm 12.8; 1 Ts 5.12)

• “EGOÚMENOI = dirigentes (At 15.22; Hb 13.7)

• “PRESBITEROS” = presbíteros (At 11.30; 14.23; 16.4; 20.17; Tg 5.12 ...)

O que estes escritores estavam fazendo era proposital, para com isso nos ensinar que o ministério cristão não se trata de uma casta sagrada, não tem roupas especiais, nem tem estilo de vida fora do comum, demonstrando assim que estes não estão em um lugar sagrado enquanto seus seguidores estão no espaço profano.

Bem se vê no sacrifício de Cristo que não foi ritual, mas existencial, uma vez que o véu que separava o sagrado do profano se rasgou de alto a baixo. Com isso fica claro que Deus não está nem aí para a dicotomia sagrado/profano, tão em voga nas religiões sacrais.

Os rituais que estão sobrecarregando a liturgia dos ‘novos evangélicos’ é uma prova de que estamos ávidos por transpor a barreira do comum [profano], e adentrarmos no terreno do sagrado, não sei se isto é bom ou ruim; mas os que se aventurarem por este caminho farão uma grandiosa descoberta. Eles descobriram que Ele não está lá, mas cá.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

ADÃO E EVA COMO PARÁBOLA

Alguns teólogos tem procurado conciliar a história de Adão e Eva com a Teoria da Evolução.

Teilhard de Chardin foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que logrou construir uma visão integradora entre ciência e teologia. Através de suas obras, legou-nos uma filosofia que reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagradas do divino e sua teologia. Disposto a desfazer o mal entendido entre a ciência e a religião, conseguiu ser mal visto pelos representantes de ambas. Muitos colegas cientistas negaram o valor científico de sua obra, acusando-a de vir carregada de um misticismo e de uma linguagem estranha à ciência. Do lado da Igreja Católica, por sua vez, foi proibido de lecionar, de publicar suas obras teológicas e submetido a um quase exílio na China.

"Aparentemente, a Terra Moderna nasceu de um movimento anti-religioso. O Homem bastando-se a si mesmo. A Razão substituindo-se à Crença. Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram falar de conflito entre Fé e Ciência. A tal ponto que pôde parecer, a certa altura, que esta era decididamente chamada a tomar o lugar daquela. Ora, à medida que a tensão se prolonga, é visivelmente sob uma forma muito diferente de equilíbrio – não eliminação, nem dualidade, mas síntese – que parece haver de se resolver o conflito."

O Padre Ariel Álvarez Valdez sustenta que trata-se de uma parábola composta por um catequista hebreu, a quem os estudiosos chamam de “yahvista”, escrita no século X AC, que não pretendia dar uma explicação científica sobre a origem do homem, mas sim fornecer uma interpretação religiosa, e elegeu esta narração na qual cada um dos detalhes tem uma mensagem religiosa, segundo a mentalidade daquela época.

John F. Haught, filósofo americano criador do conceito de Teologia evolucionista, diz que "o retrato da vida proposto por Darwin constitui um convite para que ampliemos e aprofundemos nossa percepção do divino. A compreensão de Deus que muitos e muitas de nós adquirimos em nossa formação religiosa inicial não é grande o suficiente para incorporar a biologia e a cosmologia evolucionistas contemporâneas. Além disso, o benigno designer [projetista] divino da teologia natural tradicional não leva em consideração, como o próprio Darwin observou, os acidentes, a aleatoriedade e o patente desperdício presentes no processo da vida”, e que “Uma teologia da evolução, por outro lado, percebe todas as características perturbadoras contidas na explicação evolucionista da vida”, sobre as idéias de Richard Dawkins, Haught declara que: “A crítica da crença teísta feita por Dawkins se equipara, ponto por ponto, ao fundamentalismo que ele está tentando eliminar”

Ilia Delio, teóloga americana, sustenta que a teologia pode “tirar proveito” das aquisições de uma ciência que vê na “mutação” o núcleo essencial da matéria.

O Rabino Nilton Bonder sustenta que: "a Bíblia não tem pretensões de ser um manual eterno da ciência, e sim da consciência. Sua grande revelação não é como funciona o Universo e a realidade, mas como se dá a interação entre criatura e Criador".

1. ↑ Adão e Eva: origem ou parábola?, acessado em 07 de janeiro de 2011

2. ↑ Entrevista com John F. Haught: Uma teologia da evolução precisa mostrar que a fé bíblica não contradiz o caráter evolutivo do mundo, acessado em 07 de janeiro de 2011

3. ↑ Fé e evolução, binômio possível, traduzido a partir de entrevista publicada em 23 de agosto de 2008, acessado em 07 de janeiro de 2011

4. ↑ Darwin e heresias, publicado no jornal O Globo de 03 de março de 2009, acessado em 07 de janeiro de 2011