O ser humano vive em constante tentação: procurar Deus à margem da vida.
A divisão da realidade em dois âmbitos, o sagrado e o profano, tornou possível esta tentação. Há no mundo lugares, pessoas, tempos e templos sagrados, onde o homem ‘tenta’ encontrar com Deus. Os demais lugares e tempos são profanos e neles o homem só encontra com o homem.
Com muita freqüência os religiosos vão ao templo para levar ao “deus” todo tipo de oferenda para manter “deus” fora da realidade de vida dos seus devotos.
Os profetas do AT condenaram essa separação entre o templo e a vida (Is 1.11-18; Am 5.21,24), mas a verdadeira revolução veio com Cristo, ele fez desaparecer a raiz da tentação ele fez cair a parede entre o sagrado e o profano.
Sagrado e profano não são fragmentos excludentes do tempo e do espaço, mas tudo é profano e, ao mesmo tempo, tudo é sagrado: profano para quem vê as aparências externas, e sagrado para quem penetra em sua profundidade.
Em Cristo desaparecem os templos, os sacrifícios, os sacerdotes e os tempos sagrados. Pelo menos no sentido que tem para qualquer religião (Jo 4.21-24).
Orígenes comentava: “o santuário não precisa ser procurado em um lugar mas nos atos, na vida, nos costumes”.
Entre os primeiros cristãos não existiam templos. Como dizia Justino, “qualquer lugar lhes parecia bom para adorar a Deus.”
O culto dos cristãos exclui a idéia de sacerdote. Existem todo um interesse linquístico no NT para evitar a palavra “IEREUS” = SACERDOTE, ligado ao culto e ao serviço cristão. Quando aparece este termo “iereus” trata-se sempre de um sacerdote pagão ou judeu. Aos pastores da comunidade cristã, empregam-se designações que não sugerem nenhuma relação com o culto, sendo:
• “DOULOS” = servos (Rm 1.1);
• “DIAKONOS” = ministros (2 Co 3.6; 6.4; Cl 1.23,25; Ef 3.7);
• “PROISTAMENOI”= presidentes (Rm 12.8; 1 Ts 5.12)
• “EGOÚMENOI = dirigentes (At 15.22; Hb 13.7)
• “PRESBITEROS” = presbíteros (At 11.30; 14.23; 16.4; 20.17; Tg 5.12 ...)
O que estes escritores estavam fazendo era proposital, para com isso nos ensinar que o ministério cristão não se trata de uma casta sagrada, não tem roupas especiais, nem tem estilo de vida fora do comum, demonstrando assim que estes não estão em um lugar sagrado enquanto seus seguidores estão no espaço profano.
Bem se vê no sacrifício de Cristo que não foi ritual, mas existencial, uma vez que o véu que separava o sagrado do profano se rasgou de alto a baixo. Com isso fica claro que Deus não está nem aí para a dicotomia sagrado/profano, tão em voga nas religiões sacrais.
Os rituais que estão sobrecarregando a liturgia dos ‘novos evangélicos’ é uma prova de que estamos ávidos por transpor a barreira do comum [profano], e adentrarmos no terreno do sagrado, não sei se isto é bom ou ruim; mas os que se aventurarem por este caminho farão uma grandiosa descoberta. Eles descobriram que Ele não está lá, mas cá.
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