quarta-feira, 29 de setembro de 2010

BULTMANN – O ENCONTRO DESINTERESSADO

Como especialista em Novo Testamento, Bultmann procurou transmitir o centro da mensagem cristã de uma forma que fosse compreensível para o ser humano de sua época, que não enxergava o mundo da mesma forma que uma pessoa do primeiro século. Sem menosprezar a historicidade de Jesus, para Bultmann o que realmente importava a respeito de Cristo era sua mensagem.

Através do kerigma, isto é, da proclamação, o ser humano é desafiado a dizer sim ou não à pessoa de Jesus Cristo. “A convicção de Bultmann foi que apenas com a proclamação da Palavra o acontecimento de Jesus se torna um acontecimento salvífico para nós; a saber, na recepção da fé”, afirma o pastor e teólogo luterano brasileiro Walter Altmann, presidente do Conselho Mundial de Igrejas.
Seguindo a corrente filosófica existencialista de Martin Heidegger, Bultmann chegou à conclusão de que a vida humana é desprovida de qualquer sentido. Tal sentido somente seria preenchido por um contato direto com Deus, obtido exclusivamente pela fé em Jesus Cristo. Temos aqui a reafirmação de um dos principais dogmas da Reforma, o conhecido “sola fide”, isto é, só a fé. Não obstante, a fé, para ser realmente fé, não deve se apoiar em qualquer outro meio que não seja Cristo. Comprovações históricas ou científicas, assim como a atenção demasiada a milagres, levam o ser humano a condicionar sua fé a elementos materiais.
Para o teólogo de Marburg, fé é uma auto entrega completa do ser humano nas mãos de Deus, fé que abre mão de comprovações de qualquer espécie.

Nos dias atuais, infelizmente, o centro da pregação e até mesmo da fé cristã está sendo invertida. De um lado, grupos fundamentalistas firmam suas crenças em supostas comprovações científicas de pormenores insignificantes do texto bíblico. Não percebem que, desta forma, estão submetendo Deus ao pensamento humano. Em outra esfera, a fé tem sido um exercício baseado apenas em milagres e prodígios que visam à satisfação material das pessoas. Cristo tem sido seguido por aquilo que ele pode proporcionar, não pelo que ele realmente é, o único capaz de conceder um verdadeiro sentido à alma carente de Deus.
Por esta razão, a teologia de Rudolf Bulmann, que nada mais é do que a valorização do encontro desinteressado da pessoa com Cristo, pode ser uma ferramenta para a proclamação do evangelho ao mundo moderno.

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