domingo, 14 de novembro de 2010

A “OUTRA” IGREJA POSSÍVEL

O cardeal Carlo M. Martini, jesuíta, biblista, arcebispo que foi de Milan em seu livro de confidências e confissões Colóquios noturnos em Jerusalém, declara: “Antes eu tinha sonhos acerca da Igreja. Sonhava com uma Igreja que percorre seu caminho na pobreza e na humildade, que não depende dos poderes deste mundo; na qual se extirpasse pela raiz a desconfiança; que desse espaço às pessoas que pensem com mais amplidão; que desse ânimos, especialmente, àqueles que se sentem pequenos o pecadores. Sonhava com uma Igreja jovem. Hoje não tenho mais esses sonhos”. Esta afirmação categórica de Martini não é, não pode ser, uma declaração de fracasso, de decepção eclesial, de renúncia à utopia. Martini continua sonhando nada menos que com o Reino, que é a utopia das utopias, um sonho do próprio Deus.

Ele e milhões de pessoas na Igreja sonham com a “outra Igreja possível”, ao serviço do “outro Mundo possível”.

A outra igreja possível deverá ser radical na procura da justiça e da paz, da dignidade humana e da igualdade na alteridade, do verdadeiro progresso dentro da ecologia profunda.

A outra igreja possível poderá fazer uso do Pacto das Catacumbas que em seus 13 pontos insiste na pobreza evangélica da Igreja, sem títulos honoríficos, sem privilégios e sem ostentações mundanas; insiste na colegialidade e na corresponsabilidade da Igreja como Povo de Deus e na abertura ao mundo e na acolhida fraterna.

A outra igreja possível desejará viver, à luz do Evangelho, a paixão obsessiva de Jesus, o Reino. Há de querer ser a Igreja da opção pelos pobres, comunidade ecumênica e macroecumênica também.

A fé da outra igreja possível, o Deus em quem acreditamos, o Abba de Jesus, não pode ser de jeito nenhum causa de fundamentalismos, de exclusões, de inclusões absorventes, de orgulho proselitista. Chega de fazermos do nosso Deus o único Deus verdadeiro. A Igreja será uma rede de comunidades orantes, servidoras, proféticas, testemunhas da Boa Nova: uma Boa Nova de vida, de liberdade, de comunhão feliz.

A obra da outra igreja possível terá como pregação e imitação uma Boa Nova de misericórdia, de acolhida, de perdão, de ternura, samaritana à beira de todos os caminhos da Humanidade. Seguiremos fazendo que se viva na prática eclesial a advertência de Jesus: “Não será assim entre vocês” (Mt 21,26). Seja a autoridade o serviço.

A outra igreja possível se comprometerá, sem medo, sem evasões, com as grandes causas de justiça e da paz, dos direitos humanos e da igualdade reconhecida de todos os povos. Será profecia de anuncio, de denúncia, de consolação. A política vivida por todos os integrantes desta igreja será aquela “expressão mais alta do amor fraterno”.

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