terça-feira, 24 de maio de 2011

Quem foi Judas? – A Superinteressante ‘puxou’ a ficha do vilão dos Evangelhos

Por Ana Paula Chinelli


Judas é um personagem sem história. Com exceção de 15 citações nos evangelhos canônicos e algumas outras no Atos dos Apóstolos, quase não há registros de seu passado antes de conhecer Jesus. Ao contrário de apóstolos como Pedro, que era pescador, ou do cobrador de impostos Mateus, a Bíblia não conta de onde ele veio ou como ganhava a vida. Um silêncio que não chega a surpreender. "Pouco se sabe sobre Judas porque os evangelhos não tinham compromisso com a história. Eram apenas textos para orientar os cristãos e passar os ensinamentos de Jesus", diz Gabriele Cornelli, doutor em ciências da religião da Universidade Metodista de São Paulo. E a orientação oficial sempre foi clara: Judas era o vilão. E ponto final.

Ponto final para os fiéis, é claro. Para os pesquisadores, este é apenas o ponto de partida para dúvidas que nunca foram respondidas. Algumas delas: assim como os outros 11 apóstolos, Judas também teve um grupo de seguidores? Quem eram eles? Há algum legado seu para o cristianismo? Qual foi a relação dele com Jesus? Judas foi mesmo o vilão pintado pela Bíblia? As respostas, como boa parte da história do nascimento do cristianismo, passam mais por hipóteses que por fatos comprovados. Acredita-se, por exemplo, que Judas era uma espécie de outsider entre os seguidores mais próximos de Jesus. Seu sobrenome, Iscariotes, provavelmente é uma indicação da cidade em que ele nasceu: Cariotes, ou Kerioth, ou algo bem próximo a isso – a vila nunca foi localizada com precisão. Sabe-se que o lugarejo ficava perto de Hebron, uma importante área urbana no sul da Judéia. Mas que estava a cerca de 5 dias de viagem da Galiléia, região que abrigava o coração da religião que nascia, onde viviam Jesus e seus outros 11 apóstolos (veja mapa no quadro acima).

E o que isso quer dizer? Que Judas pode ter sido uma figura bastante importante para Jesus. Caberia a ele levar as pregações aos habitantes da Judéia. E isso não era pouco. Vivendo no então principal centro político e econômico de onde hoje fica Israel, os habitantes da região acreditavam ser intelectualmente superiores aos moradores da Galiléia, considerados rústicos e atrasados, quase caipiras. O fato de Judas, um local, falar bem de Jesus pode ter ajudado a abrir as portas da região para o líder forasteiro. "A existência de um Evangelho de Judas leva a crer que ele teve seguidores e nos faz supor que ele tinha forte influência na Judéia", diz Emmel.

Para entender como Judas podia ter uma "área de influência" é preciso conhecer a estrutura do grupo de seguidores que Jesus tinha ao seu redor. Eles estavam divididos em 3 círculos. No mais distante, ficavam os ouvintes. Eles estavam em todo o território judaico e não seguiam Jesus, mas eram simpáticos às suas pregações. No segundo grupo estavam os discípulos, cerca de 70 pessoas que seguiam o mestre, ouviam seus discursos, anunciavam sua chegada nas cidades, faziam algumas pregações em seu nome, mas não tinham compromisso com Jesus. Foi desse grupo que ele escolheu 12 homens a quem chamou de apóstolos (mensageiros, em grego). Eles formavam o terceiro grupo e eram os mais fiéis. Faziam parte desse núcleo central os irmãos Pedro e André, Tiago e João, Filipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, outro Tiago (que era primo de Jesus), Judas Tadeu, Simão e Judas Iscariotes. "Jesus e os apóstolos tinham uma relação de profundo respeito e amizade", diz o historiador da religião João de Araújo.

Nesse grupo, alguns tinham papéis definidos. Segundo a Bíblia, cabia a Judas a administração do dinheiro recolhido durante as pregações – uma função que sugere a confiança de Jesus (mas que também pode nunca ter existido, sendo acrescentada apenas para reforçar sua afeição ao dinheiro). A verba arrecadada cobria o custo das viagens. "Jesus foi um líder itinerante", diz Cornelli.

Na ausência do líder, seus seguidores trabalhavam individualmente na busca por fiéis. "Jesus tinha muita clareza do que estava fazendo. Ele organizou células no território judaico e compôs uma estrutura que deu sustentabilidade ao seu poder. Isso explica por que o cristianismo sobreviveu mesmo depois de sua morte", afirma o historiador André Chevitarese, professor de história antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Assim, é muito provável que cada um dos apóstolos tivesse um grupo próprio de seguidores. Afinal, apesar de falarem em nome de Jesus, eram eles que entravam em contato direto com as pessoas comuns. Davam conselhos, pregavam, supostamente operavam milagres. E, obviamente, faziam isso a seu modo: quem ouvia Pedro tinha uma visão diferente da dos seguidores de João ou Tomé sobre os ensinamentos de Cristo.

Mais tarde, essas peregrinações individuais serviriam como a semente que germinaria diversos cristianismos diferentes nos séculos 1 e 2 d.C. – é isso mesmo que você leu, diversos cristianismos. Antes, porém, a nova religião precisaria assistir a seu episódio mais emblemático.



2 comentários:

  1. Sério, nunca vi tanta heresia em um mesmo lugar...
    Sem contar que não possui nenhuma referência bíblica de nd disso...
    Aí vc vai me dizer:"Sim, mas o artigo é de uma revista mundana"
    E eu te respondo: "Se vc colocou aí, é pq concorda; se não, usaria suas próprias palavras para refutar o q estava escrito. Como isso não aconteceu, sim, vc concorda"

    Eu não vou pôr em meu site cristão um artigo depreciativo a Jesus e dizendo q Satanás é um cara legal, e depois q todos perceberem a cagada q eu fiz, dizer q akilo veio de uma revista mundana...

    Sem noção demais...

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  2. O texto tem certo fundamento.
    Judas não era a pior espécie de gente como a igreja estereotipou.

    Alguns comentam que o ato da traição, na verdade, foi motivado pela frustração de Judas por não ver Jesus Cristo como o Messias político que tanto eles esperavam. Talvez Judas estivesse pensando em dar até mesmo uma maozinha a Jesus, pois quando Jesus fosse pressionado, pensando Judas, agiria como um rei e lideraria a "milícia" em combate para resistir o governo Romano.

    Alguns argumentos em favor dessa interpretação:

    1) Os discípulos tinham esta expectativa "militar". Muitos andavam armados como Pedro no Jardim do Jetsêmani. Alguns vieram de partidos como os Zelotes que eram ferrenhos opositores de Roma. E não compreenderam a missão de Jesus Cristo, pois vez ou outra questionavam sobre o Reino, as honrarias do Reino, quem se assentaria a direita e a esquerda,... ficaram pasmos quanto Jesus profetizou sua morte...

    2) A etimologia de Iscariotes também remete à uma conotação política ligando-o ao grupo dos sicários, uma ramificação do grupo dos zelotes que perpetrava violentos ataques contra as forças romanas na Palestina.

    3) Judas era um patriota paramilitar missiânico com intenção de servir ao governo Messiânico e subjugar Roma. Não era um traidor asqueroso. Quanto "caiu a ficha" que seu plano ao invés de "ativar" Jesus a uma revolução o fez réu de morte percebemos que fico atônico, ansioso, ... e quando viu Jesus morrer reconheceu que havia feito o mal a seu líder. Tamanha foi a dor que não suportou e se matou.

    Tá, vamos analisar. Uma pessoa asquerosa, violenta, homicida,... traidora, com um verdadeiro caráter corrompido, querendo intencionalmente trair outra e causar-lhe a morte não se importaria muito quando seu plano fosse bem sucedido! Não se mataria por isso.

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