quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

DESCONSTRUCIONISMO – “A HERMENÊUTICA DA SUSPEIÇÃO” E O FIM DO ABSOLUTO

Uma das ilustrações do pluralismo intelectual pode ser vista na abordagem dos textos e de sua linguagem. Trata-se de um método crítico do texto chamado Desconstrucionismo, que virtualmente declara que a identidade e as intenções do autor de um texto são irrelevantes para a interpretação do texto, antes de insistir que em qualquer caso, nenhum significado pode ser encontrado nele. Todas as interpretações são igualmente válidas ou igualmente destituídas de significado (dependendo do ponto-de-vista de quem o analisa).

Todas as pessoas podem ter as suas próprias idéias com respeito ao texto lido. Ninguém pode reivindicar exclusividade de verdade na sua interpretação.

O pós-modernismo afirma que a linguagem não pode expressar verdades a respeito do mundo de um modo objetivo. A linguagem, por sua própria natureza, dá forma ao que pensamos. Visto que a linguagem é uma criação cultural, o significado é, em última análise, uma construção social. Os valores do pós-modernismo não são pessoais, mas sociais, da cultura. O verdadeiro significado das palavras é parte de um sistema fechado de uma cultura, que não faz sentido para uma outra cultura.

Como seres humanos, não podemos escapar da linguagem. Nossa linguagem está presa à nossa cultura, e não podemos pensar por nós mesmos. As palavras pensam por nós. Portanto, para os desconstrucionistas todos nós vivemos encarcerados na "prisão da linguagem." A linguagem humana não contém qualquer verdade absoluta. Então, tirando vantagem desse conceito, os pós-modernistas procuram minar os muros dessa prisão, a fim de poder derrubá-los. Como fazem isso? A única forma é tornar as palavras destituídas de sentido absoluto, dizendo que elas expressam idéias escorregadias e mutáveis. Por essa razão, um texto não pode conter uma verdade absoluta, pois o sentido que o autor quis dar a ele não é importante. O importante é como quem lê o entende. Pessoas podem ter as mais diferentes interpretações do mesmo texto, sem que isso constitua uma contradição. A contradição existe se há a verdade absoluta, mas como não há, não há contradição.

Os desconstrucionistas do pós-modernismo procuram desenvolver uma "hermenêutica de suspeição" quando lêem um texto. Eles abordam o texto não para encontrar a verdade absoluta nele, uma verdade objetivamente descrita, mas para desmascarar o texto procurando descobrir o que está escondido nele. Entendendo que a linguagem é detentora de todo o poder, os desconstrucionistas procuram a libertação desse poder por romper a autoridade da linguagem. A hermenêutica da suspeição, referida acima, vê cada texto como uma criação política usualmente designada para funcionar como propaganda para o status quo. A idéia dos desconstrucionistas é tirar o poder das palavras que formaram a civilização ocidental criando os preconceitos de racismo, sexismo, patriarcalismo, homofobia, imperialismo e a opressão econômica. A fim de quebrar com essa sociedade doentia, o desconstrucionismo procura retirar das palavras o seu significado objetivo, dando-lhes uma interpretação subjetiva, dependendo do entendimento de quem as lê.

Dá para imaginar o caos teológico quando se aplica este método desconstrucionista aos textos da Escritura. Os desconstrucionistas podem fazer o que quiserem para destruir o sentido que o autor sacro quis dar às suas palavras, e, assim, acabam por desautorizá-las, tirando-lhes o sentido de uma verdade objetiva. Cada leitor dos textos bíblicos dá a sua própria interpretação, já que as palavras não possuem o significado que o autor quis dar, uma vez que este, no pensamento dos desconstrucionistas, é irrelevante. A interpretação está sujeita ao entendimento que o leitor tem das palavras, de acordo com a sua própria formação cultural, já que palavras são matéria de formação cultural.

Lógico que se algum “crente” estiver lendo este artigo vai dizer que isso é acadêmico demais e jamais teremos isso no seio “evangélico”, mas basta você ouvir os pregadores em qualquer tribuna e verá que depois da leitura bíblica o que segue é um show de desconstrucionismo explícito. Repare que sem perceberem ou sem nunca terem ouvido falar desta tal hermenêutica da suspeição, os novos evangélicos ao sujeitarem o texto à sua própria interpretação, (claro que vão dizer: “Deus me revelou isso”), estão abraçando a hermenêutica e o jeito de ler e entender bíblia do pós-modernismo.



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