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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ECOLOGIA SOCIAL EM FACE DA POBREZA E DA EXCLUSÃO

Leonardo Boff


Hoje se fala das muitas crises sob as quais padecemos: crise econômica, energética, social, educacional, moral, ecológica e espiritual. Se olharmos bem, verificamos que, na verdade, em todas elas se encontra a crise fundamental: a crise do tipo de civilização que criamos a partir dos últimos 400 anos. Essa crise é global porque esse tipo de civilização se difundiu ou foi imposto praticamente ao globo inteiro.

Qual é o primeiro sinal visível que caracteriza esse tipo de civilização? É que ela produz sempre pobreza e miséria de um lado e riqueza e acumulação do outro. Esse fenômeno se nota em nível mundial. Há poucos países ricos e muitos países pobres.

Nota-se principalmente no âmbito das nações: poucos estratos beneficiados com grande abundância de bens de vida (comida, meios de saúde, de moradia, de formação, de lazer) e grandes maiorias carentes do que é essencial e decente para a vida.

Mesmo nos países chamados industrializados do hemisfério norte, notamos bolsões de pobreza (terceiromundialização no primeiro mundo) como existem também setores opulentos no terceiro mundo (uma primeiromundizalização do terceiro mundo), no meio da miséria generalizada.

As críticas a seguir visam a denunciar as causas dessa situação.

Há três linhas de crítica ao modelo de civilização e de sociedade atual, como foi sobejamente apontado por notáveis analistas.

A primeira é feita pelos movimentos de libertação dos oprimidos. Ela diz: o núcleo desta sociedade não está construído sobre a vida, o bem comum, a participação e a solidariedade entre os humanos. O seu eixo estruturador está na economia de corte capitalista. Ela é um conjunto de poderes e instrumentos de criação de riqueza e aqui vem a sua característica básica mediante a depredação da natureza e a exploração dos seres humanos.

A economia é a economia do crescimento ilimitado, no tempo mais rápido possível, com o mínimo de investimento e a máxima rentabilidade. Quem conseguir se manter nessa dinâmica e obedecer a essa lógica, acumulará e será rico, mesmo à custa de um permanente processo de exploração.

Portanto, a economia orienta-se por um ideal de desenvolvimento material que melhor chamaríamos, simplesmente, de crescimento, que se coloca entre dois infinitos (...): o dos recursos naturais pressupostamente ilimitados e o do futuro indefinidamente aberto para frente.

Para este tipo de economia do crescimento, a natureza é degradada à condição de um simples conjunto de recursos naturais, ou matéria-prima, disponível aos interesses humanos particulares. Os trabalhadores são considerados como recursos humanos ou, pior ainda, material humano, em função de uma meta de produção.

Como se depreende, a visão é instrumental e mecanicista: pessoas, animais, plantas, minerais, enfim, todos os seres perdem os seus valores intrínsecos e sua autonomia relativa. São reduzidos a meros meios para um fim fixado subjetivamente pelo ser humano, que se considera o centro e o rei do universo.

Leonardo Boff (Santa Catarina, 14 de dezembro de 1938, Filosofo e Teólogo), Ética da Vida, Ed. Vozes.

sábado, 30 de janeiro de 2010

HAITI – OS SINOS DA NATUREZA DOBRAM POR TODOS NÓS


Enquanto o Haiti ainda tenta se reerguer do terremoto que o devastou no último dia 12 de janeiro e deixou ao menos 170 mil pessoas mortas, eu fico pensando qual seria a explicação para tamanha devastação. Os cientistas explicaram a causa no dizendo que é um movimento constante na região e até um certo momento que é o que acontece terremotos, vão acumulando energia e chega um momento em que essa energia é liberada e foi liberada exatamente na região do Haiti. O epicentro do terremoto coincide com uma falha geológica registrada nos mapas. Ela teria cedido à pressão, e essa foi a principal culpada pra ocorrência desse terremoto que devastou o Haiti.
Os crentes provavelmente explicariam a tragédia como sendo um dos sinais do fim do mundo. Citaria inúmeros textos bíblicos, faria as mais consideráveis exegeses e hermenêuticas para provar suas argumentações. O pessoal da batalha espiritual diria que aquilo tudo era uma retaliação do maligno ou um ataque fulminante das hostis demoníacas, afinal, aquele povo vivem de caso com o inimigo.
Eu quero fazer uma leitura diferente desta tragédia. Eu penso que a natureza está gemendo, ou nos dando em cada tragédia natural uma oportunidade de reconciliação, é sua pregação, com um emocionante apelo; e mais, com uma nota fúnebre como música de fundo, (muito comum nos apelos do púlpito evangélico). Pena que seus ouvintes não são tocados suficientemente a ponto de ‘ir lá na frente’ se entregar e deixar acontecer a ‘metanóia’ ecológica.
Na Londres de 1624, os sinos da catedral de São Paulo, onde o poeta John Donne era o Deão, tocavam quase ininterruptamente anunciando as milhares de mortes causadas pela peste. Atingido por grave enfermidade (que chegou a ser confundida com a peste) Donne escreveu então um de seus textos mais conhecidos, a Meditação XVII: "Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de teus amigos ou mesmo tua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti."
Hoje, no mundo, os sinos dobram por todos nós e para nos acordar. Grandes desastres podem virar acontecimentos corriqueiros. Não devemos pensar apenas no Haiti como uma tragédia natural, devemos olhar para as grandes enchentes, as grandes secas, e outras grandes tragédias que vivenciamos pela mídia no dia a dia. A natureza, numa pedagogia sinistra, parece exemplificar o que significam esses fenômenos extremos que, em várias regiões do planeta, tenderão a provocar calamidades cada vez mais severas e intensas.
Em vez dos pastores bradarem do púlpito sua sentença de fim do mundo com a chegada do juízo apocalíptico, deveriam sim, usarem tais catástrofes naturais como ilustrações para seus sermões, conclamando o povo para o fim da irresponsabilidade ecológica, a começar dos ditos mordomos do Senhor.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

ECOLOGIA E A MENTALIDADE DESTRUIDORA DA TEOLOGIA DOENTIA DE ALGUNS EVANGÉLICOS


Hoje em dia estamos vivenciando uma grande ameaça à vida devido a agressão feita a nossa casa, o planeta Terra. Seus recursos naturais estão se esgotando, florestas estão sendo devastadas e isso afeta a harmonia do planeta. Mudanças no clima, por exemplo, já são uma realidade. Mas são muito mais numerosos e terríveis os agres¬sores da natureza. Queimadas, desmatamentos, monocultura e agropecuárias dos latifúndios, agrotóxicos, caça e pesca predatória e indiscriminada, grandes barragens, poluição das águas e do ar e por aí a fora.
- Mas e daí ? Perguntam alguns.
- E eu com isso. Dizem outros.
- Afinal isso tudo vai pegar fogo!
Tem ‘crentes’, olhando para o aquecimento global e dando glórias a Deus, porque afinal Jesus está voltando. É o fim dos tempos. Glória a Deus!
Tem ‘crentes’, pouco se lixando com o planeta, porque afinal a “terra vai pegar fogo”, é bíblico dizem eles.
E nesta mentalidade destruidora, nesta tara apocalíptica, neste desejo de ver o ‘fogo do juízo’ divino se abatendo contra os infiéis, celebramos a destruição do planeta.
Sim, celebramos a destruição da Terra em nome de uma suposta catástrofe já profetizada e determinada por Jeová, que não tem ‘crente’ que impeça de acontecer, afinal os desígnios proféticos de Deus não serão frustrados.
Essa teologia doentia ameaça o planeta. E impede que os ditos ‘evangélicos’ aceite ao menos discutirem a possibilidade da pauta ecológica na igreja.
Os países que nos venderam esta teologia são os que mais poluem o planeta e resistem qualquer possibilidade de reconciliação com a mãe natureza.
Esta mentalidade destruidora impulsionada a séculos por uma teologia doentia nos empurram para um final catastrófico, e nos acenam com a consolação: “fique tranqüilos, nos vamos morar no céu ao lado de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”.
E agora o que fazer Jesus?
Jesus, se me permite um aviso. Cuidado com o teu céu, quando chegarmos por aí.