O Iluminismo pensanva que, caso houvesse qualquer intervenção divina no mundo dos homens, tal intervenção seria “filtrada” pela alma humana que, então, ao lembrar-se dos exemplos das entidades divinas (por exemplo, a vida de Jesus ou dos santos etc.), inspiraria atos mentais, de caráter intelectual e moral. Mas não foi assim que as coisas evoluíram em nossos tempos recentes. No movimento de proliferação de igrejas dos anos noventa, e que continua agora mais forte que nunca, ninguém é “tocado” pela inspiração dessa maneira. Na competição para arrecadar almas pagantes ou almas que pela presença conferem poder ao pastor (que ele pode reverter em poder político e financeiro), as igrejas perceberam que precisam criar um sistema facilitador em relação às proibições. Deixaram de falar da ética do Reino em relação ao Indíviduo como Imagem de Deus, ao relacionamento com o próximo e a solidariedade com o oprimido e passaram a enumerar regras que vão desde o lugar onde um ‘crente’ deve ir, até o que este ‘fiel’ deve ouvir ou pronunciar.
Criaram o efeito mágico das palavras. Principalmente as palavras de ‘maldição’, as únicas que realmente tem poder sobre a vida deles, pois vivem de proibições de palavras ‘fortes’ tais como: ‘pobreza’, ‘miséria’, ‘coitado’, ‘pobre’, ‘morte’, etc. A estas palavras eles refutam desde o “tá amarrado”, eu “rejeito”, até o tradicional toque na madeira, ou ‘peguei no verde’ (rsrsr).
De igual modo não é tão forte as palavras de ‘bênção’, aja visto que falar de ‘riqueza’, ‘dinheiro’, ‘saúde’ (ainda que na hora do espirro), “vais ganhar na mega sena da virada”, (os crentes dizem não apostar, kkk), não funcionam, mesmo que o fiel diga com toda ‘fé’, ‘eu recebo’.
Os novos crentes também reconstruíram as rotas sagradas do turismo espiritual. A ida a Israel não como visitação a um lugar histórico e emblemático tem crescido assustadoramente, os crentes vão lá pra tentar “sentir’ alguma “coisa”. E deve sentir mesmo, tais os relatos que de lá temos ouvido. Na maioria das vezes, ‘conversa pra boi, (digo ovelha), dormir’.
De lá trouxeram o famoso shoffar, um instrumento de som horrível e deram a ele um sentido magico, que levam todos ao delírio espiritual. Quem tem um shoffar hoje tem o poder na mão. Eu já vi um sujeito arrancar aplausos, gritos e frenesi da platéia simplesmente com algumas ‘sopradas’ desafinadas.
Sem contar que outros objetos sagrados que povoam os templos e as casas dos fiéis, a um preço altíssimo, movimentam uma cifra milionária no mercado da fé. Já temos representante comercial para tais objetos tirando pedido nas igrejas, fazendo destas sua ‘gorda’ e próspera carteira de clientes. Os pastores (leia-se compradores e vendedores) não perdem as promoções, as novidades, os lançamentos da indústria da fé. E vendem. E como vendem!!!!!!
Essas e outras besteiras de crentes nada mais é que um resto de neopaganismo tipo bárbaro que vem sendo reconstruído e trazido para dentro das igrejas evangélicas. No entanto os crentes não se apercebem que estão fazendo papel de tolo, e isso se deve ao fato do emburrecimento bíblico-teológico que vem tomando conta dos arraiás da crentaida.
É claro que tudo isso é ajudado por outros mecanismos, principalmente o atrativo do “milagre”, da “cura imediata” ou da “salvação” que, enfim, não é a salvação contra o Mal, e sim a salvação financeira ou o desemprego ou a falta de sorte etc. Ou seja, o Mal se traduz em males da cada um, em um sentido moral bem empobrecido. O pastor promete dar ao fiel não um Deus ou um Jesus ou coisa parecida, nos cânones do cristianismo que conhecíamos antes dos anos noventa. Ele promete dar um Mágico, alguém do Além que pode ser chamado, a qualquer momento, para resolver problemas cotidianos. O azar na vida é coisa mostrada como produto de uma entidade denominada “Demônio”. A sorte pode ser restabelecida pela fé, uma fé esvaziada de religiosidade, ou seja, algo que se faz sentir a partir do pronunciamento de palavras do tipo “Sangue de Jesus tem poder”, exatamente como Mandrake poderia dizer “Abracadabra”.
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