quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

TEOLOGIA RELACIONAL: DISCURSO QUE ACALENTAM OS QUE TEMEM A SOBERANIA DE DEUS

A Teologia Relacional é uma nova perspectiva hermenêutica sobre Deus que se propõe a corrigir as pretensas distorções do teísmo clássico. Ela é apresentada como sendo uma proposta essencialmente prática e bíblica, elaborada no sentido de resolver as supostas contradições resultantes da crença em um Deus soberano em meio a uma realidade marcada pelo sofrimento.

Os partidários da perspectiva em questão continuam divulgando suas premissas por meio de palestras e diversos eventos religiosos. Além do mais, com o avanço da tecnologia, os canais tradicionalmente utilizados para difusões teóricas (livros, parlamentos, artigos acadêmicos, etc.) passaram a contar também com os fóruns de discussão on-line, tais como homepages, blogs, e outros.

O principal articulador dessa teologia no Brasil, o pastor da Igreja Assembléia de Deus Betesda, Ricardo Gondim Rodrigues. A princípio, as idéias de Gondim pareciam limitadas aos seus escritos e discursos. Curiosamente, porém, noções semelhantes começaram a aparecer em outros setores, defendidas por líderes de diferentes segmentos evangélicos. Bráulia Ribeiro, missionária da JOCUM e também articulista da revista Ultimato, esboçou sua preferência pela “limitação de Deus” para relacionar- se com seres humanos livres, mostrando-se disposta a aceitar, inclusive, uma redefinição da onisciência. Outro autor que tem expressado idéias semelhantes é o batista Darci Dusilek. Mais recentemente, Ed René Kivitz tem expressado sua proposta de uma reflexão teológica feita “de baixo para cima”, na qual deve ser deixado de lado “aquilo que Deus é em termos de sua perfeita natureza eterna, e focar sua atenção [a do teólogo] na maneira como Deus escolheu revelar e se relacionar com as pessoas na história”. Neste caso, os olhos do teólogo devem “deixar de lado a visão ideal e abstrata da filosofia, e se voltar para Jesus Cristo, suas ações e palavras, que revelam o Pai”.1  Aliás, em seu post sobre “teodicéia”, Kivitz propõe que a solução do problema do mal se encontra no fato de se “mudar o paradigma do pensamento que o criou”.

Assim como ocorre com o teísmo aberto nos Estados Unidos, também aqui no Brasil a Teologia Relacional não é defendida por um grande número de teólogos, mas aqueles que a defendem, ou que por ela demonstram simpatia, são pessoas articuladas e influentes. Logo, os impactos de seus escritos e pronunciamentos no meio evangélico são consideráveis. Além do mais, o assunto discutido por ela não é periférico, mas diz respeito ao próprio cerne da fé cristã.

Principais ênfases desta teologia:

1). Ênfase na liberdade humana em detrimento da onipotência divina.
2). A pressuposição de que a ideia da concepção do teísmo clássico sobre Deus foi corrompida pela influência do neoplatonismo agostiniano e o verdadeiro conceito bíblico de Deus precisa ser resgatado.
3). A ênfase na imutabilidade de Deus o torna um Ser insensível e impassível diante dos sofrimentos humanos.
4). A assertiva de que o relacionamento de Deus com os homens é determinado por seu amor e não por sua soberania.

5). O futuro está aberto para ser construído por Deus e os seres humanos em um relacionamento dentro do tempo.

1 KIVITZ, O Deus esvaziado. Cf. As vontades de Deus. Disponível em: http://outraespiritualidade. blogspot.com/2007/03/as-vontades-de-deus.html. Acesso em: 09 abr. 2007. Em seu livro Vivendo com propósito, Kivitz defende que “um Deus que não se esvazia é um diabo” e acusa parte do “teísmo clássico” de ter sido influenciado pela perspectiva grega sobre Deus. Cf. Vivendo com propósito. São Paulo: Mundo Cristão, 2003, p. 172-175.

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