1. A CONCEPÇÃO DO UNIVERSO DO NOVO TESTAMENTO É MÍTICA
1.1. O universo no NT é dividido em três andares
· No meio se encontra a terra – Lugar do natural, do cotidiano, da providência, do trabalho e também cenário da atuação de poderes sobrenaturais, de Deus e de seus anjos, de Satã e seus demônios;
· Sobre a terra o céu – Morada de Deus e das figuras celestiais, os anjos;
· Abaixo da terra o mundo inferior – O mundo inferior é o inferno, lugar de tormento.
1.2. A crença de que poderes sobrenaturais interferem nos acontecimentos naturais
· Poderes sobrenaturais interferem no pensar, querer e agir do ser humano;
· Milagres não são raro;
· O ser humano não tem poder sobre si mesmo;
· Demônios podem possuí-lo, Satã pode lhe incutir pensamentos malignos;
· Deus pode dirigir seu pensar e querer pode fazê-lo ter visões celestiais, fazê-lo ouvir sua palavra imperativa e consoladora, pode presentear-lhe a força sobrenatural do seu Espírito;
· A história não percorre seu caminho por suas próprias leis, mas obtém seu movimento e direção dos poderes sobrenaturais;
· O presente século encontra-se sob o poder de Satã, do pecado e da morte;
· Este século se encaminha rapidamente para o seu fim que ocorrerá numa catástrofe cósmica, trazendo o tempo final, a vinda do juiz celestial, a ressurreição dos mortos, o julgamento para a salvação ou perdição.
1.3. A proclamação emprega linguagem mitológica
· Na plenitude do tempo Deus enviou seu Filho;
· Seu Filho, um ser divino preexistente, aparece na terra como um ser humano;
· Sua morte na cruz, a qual ele sofre como um pecador propicia expiação para os pecados dos seres humanos;
· Sua ressurreição é o começo da catástrofe cósmica através da qual será aniquilada a morte, trazida ao mundo por Adão;
· O ressurreto foi levado ao céu, à direita de Deus, ele foi transformado em “Senhor” e “Rei”;
· Retornará sobre as nuvens do céu para consumar sua obra salvadora, quando ocorrerá a ressurreição dos mortos e o juízo, onde todo pecado e todo sofrimento será finalmente aniquilado;
· Tudo isso acontecerá em breve; Paulo é de opinião que ainda experimentaria pessoalmente este evento;
· O fiel está ligado a comunidade de Cristo pelo batismo e pela ceia do Senhor, e pode estar seguro de sua ressurreição para a salvação, se não se comportar de maneira indigna;
· Os crentes já possuem o “penhor”, a saber, o Espírito Santo, que age neles e testifica sua filiação de Deus e garante sua ressurreição.
2. A IMPOSSIBILIDADE DO RESTABELECIMENTO DA CONCEPÇÃO MÍTICA DO UNIVERSO DO NOVO TESTAMENTO
2.1. O Novo Testamento como linguagem mitológica
· Sendo uma linguagem mitológica, ela é inverossímil para o homem de hoje, pois para ele a concepção mítica é algo passado;
· A verdade proclamada no NT é verdadeira independente da concepção mítica do universo, a tarefa da teologia é demitologizar a proclamação cristã;
· A tarefa da teologia é portanto tornar esta verdade aceitável ao pensamento do homem moderno. Exigir do homem moderno uma aceitação cega da concepção mítica do universo, depois que o nosso pensamento foi moldado pela ciência, é no mínimo arbitrário.
· Não podemos afirmar uma fé numa concepção de universo que, no demais de nossa vida, negamos.
2.2. Conhecimentos atuais e confissões antigas do universo mítico do NT
· Qual o sentido de confessar hoje “desceu ao inferno” ou “subiu ao céu” já que não compartilhamos mais da idéia do universo em três patamares;
· Não partilhamos da idéia de um Deus morando no céu, ou de almas penadas morando no inferno, no sentido da idéia antiga do NT;
· Através do conhecimento das forças e leis da natureza, os astros, deixaram de ser seres demoníacos, que escravizam os seres humanos em seu serviço, e passaram a ser apenas corpos do universo, cuja influência sobre a nossa vida é apenas de ordem natural e não conseqüência de sua maldade;
· Enfermidades e suas curas tem suas causas naturais e não são devidas à ação de demônios ou à sua expulsão;
· A escatologia mítica está eliminada, fundamentalmente pelo simples fato de que a parúsia de Cristo não ocorreu muito em breve, como o NT aguardava. Ao contrário, a história da mundial continuou e continuará. O mundo poderá vir ao fim como uma catástrofe natural e não como um acontecimento mítico;
· O ser humano se compreende não dicotomizada (corpo e alma), nem tricotomizado (corpo, alma e espírito), mas como um ser unitário, que atribui a si mesmo seu sentir, seu pensar e seu querer. Ele atribui a si mesmo a unidade interior de seus estados e de suas ações;
· O ser humano que se compreende só biologicamente não admite que algo sobrenatural, como poderes divinos ou demoníacos podem penetrar na configuração fechada das forças naturais e nele atuar, ao ser humano que se presume tal intervenção, designa-se esquizofrênico;
· Também não entende como uma refeição (Ceia do Senhor) possa transmitir força espiritual ou a participação indigna nesta refeição possa acarretar doença física e morte;
· O naturalista e o idealista não podem entender a morte como castigo pelo pecado; para eles trata-se de um processo natural e simples. O ser humano está à preso a natureza; é gerado, cresce e morre. Neste caso a morte não é castigo por seu pecado, pois de antemão, já antes de ser culpado, estava sujeito à morte. A idéia de pecado hereditário como uma enfermidade que se alastra com força natural, devido a culpa de seu ancestral, é um conceito submoral e impossível, pois só conhece a culpa como ação responsável;
· A doutrina da satisfação vicária através da morte de Cristo, também não é inteligível para o homem moderno, por se tratar de um conceito mítico, algumas questões são aqui levantadas:
1. Que mitologia primitiva é essa que pretende que um ser divino feito ser humano expie através de seu sangue os pecados dos seres humanos!
2. Se a morte de Cristo efetuou uma transação jurídica entre Deus e o ser humano, então o pecado só poderia ser entendido juridicamente como infração exterior do mandamento, e os critérios éticos estariam excluídos!
3. Se Cristo, que sofreu a morte, era o Filho de Deus, o ser preexistente, que significava para ele o assumir a morte? Quem já sabe que vai ressuscitar ao terceiro dia, a esse o morrer evidentemente não afeta muito!
4. A idéia de uma ressurreição corpórea nada diz par o homem atual, visto que a morte para ele é um acontecimento natural, se Deus cria vida a partir de tal expediente, essa mensagem é praticamente nula para nossa existência. A ação de Deus só tem sentido num acontecimento que intervenha na realidade existencial autêntica, transformando-a aqui e agora.
03). NOSSA TAREFA
3.1. Clareza e sinceridade absoluta – O pregador deve a sua comunidade, bem como àqueles a quem deseja atrair para a sua comunidade, clareza e sinceridade absolutas. A pregação não deve deixar os ouvintes em dúvida quanto ao que propriamente deve ser verdadeiro ou não. Se quisermos manter a validade da proclamação do NT, só nos resta o caminho da demitologização.
3.2. A essência do mito – O sentido do mito não é proporcionar uma concepção objetiva do universo, por isso o mito não deve ser interpretado cosmologicamente, mas antropologicamente – melhor: de modo existencialista. O mito fala do poder ou dos poderes que o ser humano supõe experimentar como fundamento e limite de seu mundo, seu próprio agir e seu sofrer. Mas ao falar desses poderes ele os inclui o círculo do mundo conhecido, forças, coisas, afetos, motivos e possibilidades. Assim do não-mundano fala mundanamente, dos deuses humanamente. Por isso a mitologia do NT não deve ser explicada objetivamente, mas quanto à compreensão da existência que se expressa nestas concepções. Devemos buscar a verdade do mito, não a historicidade deste mito.
Também penso que o NT é bem mais simples do que esse que vejo sendo pregado por muitos.
ResponderExcluirAbraço amigo
Pr. Devanir