terça-feira, 29 de dezembro de 2009

APOSTOLADO CONTEMPORÂNEO – UM ERRO HERMENÊUTICO OU UM RANSO DE CATOLICISMO ROMANO?


Nestes tempos de tantas novidades, algo chama atenção de maneira muito preocupante na história recente da igreja: trata-se do Apostolado Contemporâneo, ou Restauração Apostólica. Muitos têm se levantado como apóstolos nestes dias. Apóstolos ungindo apóstolos e criando uma hierarquia apostólica. Alguns pastores que, talvez por se sentirem menores que seus colegas de ministério que foram ungidos como apóstolos, ungem-se a si mesmos e se auto-proclamam apóstolos. Não há fundamento para o chamado ministério apostólico contemporâneo pelo simples fato do mesmo não possuir respaldo bíblico.

O termo
Segundo o Dicionário Bíblico Universal, o termo apóstolo “significa mais do que um 'mensageiro': a sua significação literal é a de 'enviado', dando a idéia de ser representada a pessoa que manda. O apóstolo é um enviado, um delegado, um embaixador” (Buckland & Willians, p. 35) . A Bíblia de Estudo de Genebra também aplica esta descrição, dizendo que apóstolo “significa 'emissário', 'representante', alguém enviado com a autoridade daquele que o enviou” (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1272).

A frágil sustentação
Aqueles que defendem esta frágil posição, têm se sustentado principalmente na má interpretação do texto de Efésios 4.11 para o uso do ministério apostólico para nossos dias. O texto de Efésios 4.11 diz: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”.

A refutação
As regras mais simples de hermenêutica nos ensinam que os textos sagrados nunca devem ser tirados de seu contexto. E no contexto da epístola de Paulo aos Efésios, temos no capitulo 2 o texto que prova que este ministério não mais existe. Em Efésios 2.19-20 diz: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”.

Cristo é a pedra angular e os fundamentos foram postos pelos apóstolos e profetas. Os evangelistas, pastores e mestres são os responsáveis pela construção das paredes desta obra. Como bem explica Norman Geisler “De acordo com Efésios 2.20, os membros que formam a igreja estão 'edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas'. Uma vez que o alicerce está pronto, ele não é jamais construído novamente. Constrói-se sobre ele. As Escrituras descrevem o trabalho dos apóstolos e dos profetas, quanto à sua natureza, como um trabalho de base” (Geisler, p. 375).

A Bíblia registra o uso do termo apóstolo a outros personagens. Russel N. Champlin explica que “há também um sentido não técnico, secundário, da palavra ´apóstolo´. Trata-se de uma significação mais lata, em que o termo foi aplicado à muitas outras pessoas, nas páginas do NT. Esse sentido secundário dá a entender essencialmente ´missionários´, enviados dotados de poder e autoridade especiais” (Champlin, p. 288, v. 3).

Existiam duas exigências fundamentais para que um apóstolo fosse reconhecido para tal função:

1) Ser testemunha ocular da ressurreição de Jesus Cristo (Atos 1:21-22; Atos 1.2-3 cf. 4.33; 1 Coríntios 9.1; 15.7-8);
2) Ser comissionado por Cristo a pregar o Evangelho e estabelecer a igreja (Mateus 10.1-2; Atos 1.26).

No entanto, os que se intitulam apóstolos em nossos dias não se encaixam nos padrões bíblicos que validam o apostolado.

É interessante que, enquanto Paulo refere-se a si mesmo como “o menor dos apóstolos” (1 Coríntios 15.9), os atuais apóstolos tem por característica a fama e a ostentação do título. Tudo é apostólico! A unção é apostólica! Os eventos são apostólicos! As músicas são apostólicas! Nem de longe se assemelham com a humildade dos apóstolos bíblicos. Eventos, cultos e seminários se tornam mais interessantes quando a presença do Apóstolo Fulano é confirmada. É um chamariz: “venha e receba a unção apostólica diretamente do Apóstolo Beltrano”. Tais apóstolos têm se colocado como super-crentes, uma nova e especial classe da igreja, a elite cristã dos tempos modernos. Hoje existe de tudo um pouco neste balcão mercantil da fé: Apóstolo do Brasil, Apóstolo da Santidade, Apóstolo do Avivamento e até mesmo o mais popular apóstolo brasileiro, chamado por muitos por “Paipóstolo”.

O que pode está por trás deste interesse pelo título é explicado de uma forma muito esclarecedora, por Wayne Grudem: “Embora alguns hoje usem a palavra apóstolo para referir-se a fundadores de igrejas e evangelistas, isso não parece apropriado e proveitoso, porque simplesmente confunde que lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade ali atribuída ao ofício de ‘apóstolo’. É digno de nota que nenhum dos grandes nomes na história da igreja – Atanásio, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley e Whitefield – assumiu o título de ‘apóstolo’ ou permitiu que o chamassem apóstolo. Se alguns, nos tempos modernos, querem atribuir a si o título ‘apóstolo’, logo levantam a suspeita de que são motivados por um orgulho impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de excessiva ambição e desejo de ter na igreja mais autoridade do que qualquer outra pessoa deve corretamente ter”. (Grudem, p. 764).

Tamanho o fascínio que os crentes possuem por essa Restauração Apostólica, gera preocupação nas lideranças mais sóbrias. Vale citar as sábias palavras de Augusto Nicodemus Lopes: “Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos auto-nomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira.”
E agora fica as perguntas: quem vai rasgar a ‘bula’ apostólica contemporânea?
Alguém se habilita?
Medo da excomunhão? Talvez isso sim, explique nossa passividade ao apostolado contemporâneo, afinal os ‘caras’ tem bastante ‘poder’.

2 comentários:

  1. Pr Pedro Rocha, o senhor fez sua parte, redigiu com maestria esse texto.
    Agora, quem vai mudar a cultura da história? De um povo que tem avidez por líderes?
    E nós então pobres coitados brasileiros... temos por educação não ter educação nenhuma, e gostamos disso, afinal, pra que ler? Informação pra que? Aprender pra que? "Tenho preguiça! Hoje? Hoje não pô, tem brasileirão, tem BBB...!

    ... enquanto isso o Espítiro de Deus trabalha beeeem silencioso; pra que se cumpra todo propósito de Deus!

    Márcio Valério - IBNVA

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  2. é um assunto muito complicado mesmo, uma pessoa se declarar apostolo como forma de ascensão hieraquica é errado mesmo, inclusive a "hierarquia" em nossas igrejas evangélicas ainda são herdeiras direta da igreja católica, a unica hierarquia biblica que conheço é Cristo como cabeça e nós como membros, o pastor é o unico lider que podemos considerar não por que ele é o cara mais espiritual e sim pela responsabilidade que tem, e os cargos nas igreja evangélica deveria ser revistos, porque muitos tem sidos ungidos como pastor só porque é um bom pregador e isto é errado pastor tem que saber pregar sim, mas hoje em dia é só vermos um bom pregador que estamos chamando de pastor, pessoal pastor é quem cuida de ovelha, quem apenas ensina bem ou fala bem,pode ser evangelista ou mestre e isso não é diminuir ninguem dentro da igreja, e acredito que o texto de efesios 4:11 não está fora de contexto para quem defende o apostolado, porem não serve como base pois ele não define que é são os apostolo e temos que lembrar que paulo falou do dom de ser apostolo e se a apostolo moderno dizer que recebeu um chamado diretamente de Jesus, "teoricamente" ele seria um apostolo com autoridade, me perdoe a critica mais o texto não carece de um argumento mais forte
    Helliton S. Mesquita
    hellitonsm@msn.com

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