Para Aristóteles Deus é o agente motor imóvel (primum móbile immotum), um ser incorpóreo, indivisível, sem espaço, assexuado, sem paixão, sem alteração, perfeito e eterno. Ele é a causa final da natureza, é o impulso e a causa das coisas, é pura energia (o Actus Purus da Escolástica).
No entanto com a sua costumeira inconsistência, Aristóteles representa Deus como um espírito autoconsciente, todavia esse Deus aristotélico é muito misterioso, pois ele nunca faz coisa alguma; não tem desejos, vontade, propósito; é uma atividade tão pura que nunca age. É absolutamente perfeito, portanto não pode desejar coisa alguma; portanto nada faz. Sua única ocupação é contemplar a essência das coisas; e como ele próprio é a essência de todas as coisas, sua única tarefa é contemplar a si mesmo. Ele é um rei que nada faz; “o rei reina, mas não governa”.
Esse Deus aristotélico está entronizado em nossas congregações. Em primeiro lugar é um Deus misterioso e afastado, escondido no meio da ‘fumaça’ da adoração dos seus fiéis. Um Deus que está enclausurado em uma torre de marfim em algum lugar secreto que devemos ir até lá, marcar um ‘encontro’ com ele e quem sabe descobrir que ele é ‘tremendo’.
Este Deus aristotélico também é um Deus passivo. Ele nunca faz nada. Toda ação no mundo é o exercício do livre arbítrio do homem, ou a ação de Satanás, ou um espírito territorial qualquer. Toda vontade existente no mundo é do homem. Deus nunca quer. Só o homem tem querer neste altar. Também não há propósito nenhum em Deus. As coisas acontecem à mercê de alguma atividade de ordem humana, ou da natureza, ou, (devido a ‘brecha’ de certos homens), de satanás.
Enquanto isso o Deus aristotélico está a olhar no espelho e a contemplar a si mesmo. Enquanto ele se auto-admira, o mundo segue o seu curso, no governo da vontade humana ou no governo de satanás. Se alguma coisa acontecer é porque o homem deixou, decidiu, decretou, determinou, não vigiou, fracassou... e satanás que não é bobo nem nada, aproveitou a oportunidade e “pimba”.
Esse Deus aristotélico é pregado, ouvido, crido e adorado há séculos em nossas igrejas. Não é de se admirar que haja tanto planejamento, tanta correria, tanto ativismo, tanto modelo, tanta tentativa de ‘encontrar’, de ‘despertar’ o agir, de ‘mover’ o braço deste Deus.
Enquanto isso, nós ficamos aqui a contemplar o rei que reina, mas não governa. Ele tem a coroa, o título, a honra só falta o governo.
Que tal neste 2010 experimentarmos um Deus revelado, próximo, que não olha para seu próprio umbigo, mas para nós, criaturas dependentes, não apenas do seu status de rei, mas também do seu governo, com seus decretos e propósitos infalíveis?
Falemos com a mesma fé encontrada no Livro de Jó: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos podem ser frustrados” (42.2)
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