quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

EXISTÊNCIA TEOLÓGICA

O que acontece quando a teologia vem até uma pessoa, quando a interpela e nela entra, quando nela toma forma concreta ? Três coisas básicas podem ser identificadas nesta pessoa: admiração, abalo e comprometimento.

I. ADMIRAÇÃO

a) Ao lidar com a teologia podemos:
¨ Perder por um pouco nossa admiração inicial;
¨ Outros não chegaram a admirá-la de forma crescente;
¨ Mas ninguém jamais deixou de admirar a teologia ao lidar com ela;
¨ E se por acaso algum de vós perder a admiração com a teologia, ou venha tornar-se totalmente estranha, então para o seu bem e para o bem da teologia, você deve passar a ocupar-se com outro assunto.

b) A necessidade da admiração na teologia:
¨ Para toda percepção, pesquisa, reflexão e pronunciamento teológico, precisa-se de uma admiração de toda específica;
¨ A admiração pela teologia é que faz que nasça e sempre renasça uma ciência modesta, livre, crítica e, por conseguinte, alegre;
¨ A falta de admiração na teologia transformaria todo o empreendimento numa planta enferma na própria raiz.

c) O poder da admiração na teologia:
¨ A admiração se apodera de uma pessoa quando esta se vê frente a um fenômeno espiritual ou natural com o qual até o momento não se tenha visto ou confrontado;
¨ Mas no contexto teológico esta admiração não é apenas pasmar ou ficar inquerindo o que venha ser o novo, o inusitado, o estranho, o qual o mais cedo ou mais tarde, pelo progresso da ciência, virá a ser conhecido, explicado, tornando-se velho e rotineiro;
¨ O termo “admiração” no contexto teológico é derivado de “miraculum” – milagre. E neste ponto não há outro recurso: quem se envolve com a teologia, se envolve com o milagre, desde o começo até o último passo da sua jornada teológica.
¨ Teologia é necessariamente lógica do milagre. Se ela envergonhar-se deste fato, que é objeto de seu estudo ou se quisesse negar-se a fazer frente aos problemas decorrentes deste fato, ela teria que deixar de ser teologia.

d) Por isso todos nós que estamos lidando com a teologia, seja como teólogo de formação, ou teólogo amador, estamos irremediavelmente envolvido com o milagre:
¨ Com o milagre do filho da viúva de Naim;
¨ O centurião de Cafarnaum;
¨ Com a passagem dos israelitas pelo mar Vermelho, pelo deserto e com o sol que pela ordem de Josué fez parar em Gibeão;
¨ Envolvidos com a realidade do próprio Deus, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó;
¨ Do Pai que, através do Espírito Santo, se revela em seu Filho;
¨ Do Deus que quis ser Deus do ser humano, para que pudesse viver como ser humano de Deus;
¨ E agora que sabemos disso, devemos estar dispostos a subordinar nossa pobre pesquisa, nosso raciocínio, nosso discurso à lógica deste milagre;
¨ Quem tiver olhos para ver haverá de reconhecer já de longe uma pessoa atingida pela teologia e, com isso, pela Palavra de Deus e, por conseguinte, irremediavelmente admirada.

II. ABALO

a) Mas, admiração não é tudo em teologia:
¨ Teologia entendida como empreendimento sério , não poderá se restringir a uma mera admiração de pessoas ou eventos. Não seria apenas o milagre de personalidades religiosas, da vida e do comportamento religiosos, mas sim o próprio milagre de Deus;
¨ Mas, o milagre de Deus, ao gerar admiração, ao transformar a pessoa que com ele se ocupa num sujeito admirado, leva este sujeito a ser uma pessoa abalada.

b) Descrevendo o abalo:
¨ Porque a pessoa não pode mais distanciar-se dela e nem guardá-la mais para si;
¨ O assunto da teologia agora não se limita a inquietá-lo de longe;
¨ Ele a procurou e a achou aonde procurava – na verdade. Ele veio ao encontro dela. Assaltou-a depressa, a atingiu e a prendeu. Apoderou-se dela.
¨ A pessoa foi transladada da platéia para o palco;
¨ Ela já tocou as pontas dos pés nas águas do Jordão, ela precisou e pôde transpô-las, e agora se acha na outra margem, da qual não há retorno;
¨ Você não somente tornou-se uma pessoa admirada, mas sim abalada por seu assunto.

c) Razões deste abalo:
¨ Porque você se acha confrontado com a palavra de Deus pronunciada e percebida na obra de Deus. Palavra esta dirigida à humanidade de todos os tempos e lugares, e com isso a humanidade de seu tempo e de seu lugar, proclamando as grandes soluções, bem como juízo sobre toda a natureza e a corrupção humana.
¨ Porque você se envolveu com a problemática da cristandade:

1. A crise do não-ser da cristandade, mas constantemente resguardado do não-ser;
2. Da desunião da cristandade e do seu anseio de união;
3. De sua obediência, bem como de sua indolência e de seu ativismo vazio;

¨ Porque trata de seu próprio juízo e da graça que te é oferecida; trata de seu cativeiro e da sua libertação; trata-se da sua morte e da sua vida. Enfim, o que está na pauta de suas reflexões, no final das contas, é você mesmo.



III. COMPROMETIMENTO

a) Porque comprometimento:
¨ Deus nos dá algo peculiar, (conhecimento da verdade), mas também nos pede algo peculiar. Ele nos deu algo luminoso e belo, mas também severo. É uma coisa elevadora, mas também assustadora;
¨ Você agora pode o que deve. Mas também deve o que pode. Você pode e deve ser comprometido com o Deus do evangelho.

b) Existência comprometida:
¨ Uma existência comprometida: O abalo do conhecimento, abrange toda a sua existência. Agora você é chamado com uma liberdade específica e chamado para o uso específico desta liberdade. Sua percepção, pesquisa, raciocínio e discurso não foi inventada nem escolhida por si mesmo, mas foi lhe imposta quando você assumiu o tema da teologia. Existe um verdade com a qual você se comprometeu – a bíblia – e você deve entrar em cena com ela.

c) Níveis de comprometimento:

1. Com a unidade da obra e da palavra de Deus - Encontra-se aqui reunidas todas as coisas:
¨ As mais altas e as mais profundas;
¨ As mais sublimes e as mais insignificantes;
¨ As próximas e as longínquas;
¨ As particulares e as universais;
¨ As visíveis e as invisíveis;
¨ Seu escolher e seu repudiar;
¨ Sua misericórdia e seu juízo;
¨ Se agir como criador, reconciliador e redentor;
¨ A boa criatura de Deus, a criatura caída e a criatura renovada à imagem de Deus.
¨ É este olhar atento, essa visão de conjunto, essa percepção que qualificam a cognição teológica.

2. Com o assunto da teologia – o Deus do evangelho em sua obra e em sua palavra, que se relaciona com ser humano, o Criador com a criatura, o Senhor com o servo:
¨ Deus é absolutamente o primeiro, o conhecimento que o tem como objeto só poderá seguir-lhe, só poderá subordinar-se e acomodar-se a Ele;
¨ É ele que antes de mais nada, que o compromete, liberta e chama o teólogo para que dele se aperceba, para que dele se raciocine e fale. Hilário: “Não é Deus que está sujeito ao discurso, mas o discurso está sujeito a Deus”.


Conclusão: O teólogo encontra sua satisfação, torna-se e é uma pessoa satisfeita, que espalha contentamento tanto na comunidade quanto mundo, quando seu conhecimento, segue a estrutura que lhe é dada com o objeto de sua ciência – Deus e as Escrituras. Amém!

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